domingo, 20 de dezembro de 2009

Guilhermina Brandina da Conceição – uma mulher à frente de seu tempo

1. 'Dona Guilhermina e os seus três maridos'
Guilhermina, filha de Francisco Narcizo Gonçalves e Maria Julia de Jesus, nascida em Brotas, estado de São Paulo, entre 23 de junho de 1865 a 26/01/1867, posto ausentes os livros eclesiais de batismos para a localidade no período.
A família, seguramente em 1877, estava residente na fazenda do coronel Botelho, em atual município de Ipaussu, e a menina foi dada em casamento ao patrão, não se sabe o tempo pela inexistência de documento, porém, com certeza antes de 29 de junho de 1880 quando ela e o marido aparecem, em São Pedro do Turvo, como padrinhos da menina Francisca, filha de José Custódio de Oliveira e Maria Ritta da Silva (São Pedro do Turvo, Documentos Eclesiais CD: A/A, gentileza de Geraldo Viera Martins Junior).
— "Criança ainda se unira a esse homem (...) [que] amava-a desde menina, desde o tempo em que a via brincando com suas irmãs em sua fazenda em Ilha Grande. Casaram-se.” (Rio, José Ricardo, 2004: 52 – textos extraídos e juntados).
Com certeza Guilhermina não amava o marido com o qual obrigado a casar-se. O coronel, documentos e referências indicam, era um homem violento como líder político e no trato com as pessoas de fora do seu círculo de amizades.
Antigas memórias apontam infértil o coronel, todavia, dois registros apontam nascidos vivos a filha Maria e o filho Benedicto, falecidos nos primeiros dias de vida (CD: A/A).
— Na fazenda Bairro Ribeirão Grande – município de Ilha Grande – depois Ipaussu, onde residiu Guilhermina com o coronel Botelho, foram encontradas covas com crianças enterradas na fazenda do coronel Botelho, no Bairro Ribeirão Grande. O caso teve desdobramentos, noticiados em 1902 (Correio do Sertão, 24/05/1902: 2), mas, as investigações findaram sem maiores detalhes, numa época que, se sabe, o coronel estava desgostoso e vivendo problemas outros, de cunhos político e financeiro.
Enviuvada do coronel Botelho, em julho de 1902, por consequência de um tiro no ouvido - (http://santacruzdeantigamente.blogspot.com/2015/09/os-coroneis-e-mandatarios_11.html), dona Guilhermina Brandina da Conceição casou-se com o coronel Antonio Evangelista da Silva – Tonico Lista, do qual viúva em julho de 1922 (http://santacruzdeantigamente.blogspot.com/2015/09/os-coroneis-e-mandatarios_6.html), morto por assassinato.
Após a morte do segundo marido, dona Guilhermina conheceu o jovem Victor de Almeida Resse – em torno de vinte e sete anos mais novo, para juntos viverem tórrida e socialmente recriminada paixão, na época, que se prolongou até 1929 quando do falecimento dela.
— Guilhermina e Victor, tudo indica, se conheceram através da família Piedade – membros radicados em Faxina [Itapeva] e Espírito Santo do Turvo, sendo a Rita, filha de Guilhermina, casada em 1926 com o rico e influente dr. Ataliba Piedade Gonçalves, filho do coronel Clementino Gonçalves da Silva com a senhora Maria Perpétua da Piedade. 
O romance de dona Guilhermina com Victor de Almeida Resse foi complicado, sendo ela repudiada pela sociedade santa-cruzense pela 'dissipação dos bens a favor de um gigolô em detrimento aos filhos'; a família também a condenou. Então, o filho Joãozinho [João Evangelista da Silva Neto] foi para a Europa onde residiu por anos, e as filhas Rita e Alice vieram para Santa Cruz do Rio Pardo, sob os cuidados de parentes, casaram-se bem, Rita com Ataliba Piedade Gonçalves, já citado, e Alice com o bem sucedido advogado, proprietário e agropecuarista, Celso Vieira, natural de Capão Bonito - SP, filho de Pedro Augusto Vieira e dona Francisca Vieira de Queiroz.
Não é real, portanto, que os filhos de dona Guilhermina passaram necessidades financeiras, eles eram ricos pelo lado paterno e ela, também rica, não os desassistiu economicamente; todavia correto que dispôs de alguns dos haveres pessoais, não todos, deixando aos descendentes e familiares bens a inventariar pós-morte. Guilhermina casara-se com o coronel Tonico Lista em regime de total separação de bens, conforme Certidão de Casamento e conforme vista em divisão de bens do coronel aos filhos, uma fazenda, de acordo com publicação de 08 de junho de 1928 onde não figurou a viúva (DOSP, 08/06/1928: 4534)
Ataliba e Celso não souberam administrar os bens próprios e os havidos por heranças; não foram bons administradores.
— Ataliba e sua mulher Rita, em 1940 perderam para o Banco do Estado de São Paulo uma fazenda em Espírito Santo do Turvo, doada pelo Coronel Clementino Gonçalves; em 1946 o mesmo Ataliba está associado e participa da empresa  Otacilio Piedade Gonçalves (DOSP 02/10/1946: 28; nos anos 1950 era sócio da Companhia Americana Industrial de Ônibus e membro do Conselho Fiscal da mesma, presidida por José Piedade Gonçalves (DOSP 22/04/1950: 43); ou seja, envolvido numa série de malfadados negócios da família Piedade Gonçalves.
— Nos anos de 1960 Celso Vieira, residente e domiciliado em Dracena, mas a mãe e consorte residentes à Rua Bela Cintra nº 328 - apartamento nº 20, vizinho ao nº 21 ocupado por Ataliba Piedade Gonçalves e esposa, sofrem ação de despejo movida por Paschoal Rugna (DOSP, 015/09/1963: 32), uma pendenga que perdurou até o final dos anos 1960.
— "Portanto, na década por 70 [1970] e  por bom tempo as irmãs estavam residentes na capital paulista (...). Minha tia [nome omitido a pedido], mulher caridosa, vez ou outra, oferecia um almoço às velhas amigas que já passavam por necessidade." ( CD: A/A, 24/12/2012, sob sigilo de fonte). Documentos comprovam que a tia do informador residiu em Santa Cruz do Rio Pardo nos anos do segundo quinquênio de 1920 e foi amiga de Rita e Alice, reencontrando-se, depois, anos anos 1970 em São Paulo.

2. Victor de Almeida Resse - um nome finalmente revelado em 2022
Victor nasceu em Itapeva-SP – antiga Faxina, aos 09 de março de 1892, filho do negociante português, benquisto dentista prático e político itapevense, Fernando Resse
(1846/1927), com a tatuhyense dona Virginia Brandina de Almeida (1863/1930).
Ainda jovem, Victor seguiu a profissão do pai - protético e extrator, ou seja, prático na profissão de cirurgião-dentista, entre os anos de 1915 e 1922 em Itapeva. Não se tem notícia que houvesse cursado Odontologia.
Victor não era pobre, a família tinha recursos, em 1921/1922 integrado na sociedade paulistana (A Vida Moderna : Literatura Actualidades Arte (SP) - 1921 a 1926 - Ano 1921\Edição 00402 (1) – S. Paulo 17/03/1921 - http://bndigital.bn.gov.br/hemeroteca-digital/). Tinha amizade e bons relacionamentos com a família Piedade - notoriamente política em Itapeva, e, foi um dos associados na pioneira Rádio Educadora Paulista, pioneira no Estado de São Paulo (Correio Paulistano, 17 de novembro de 1925: 5).
— Publicações em periódicos paulistanos citam sua presença em eventos sociais ao lado de dona Guilhermina Brandina da Conceição.
A morte de dona Guilhermina, aos 18 de julho de 1929, foi noticiada em São Paulo, citando-a casada com Victor de Almeida Resse:
— Falleceu na madrugada de hontem, em Santa Cruz do Rio Pardo, para onde fôra recentemente em tratamento de saude, a senhora Guilhermina Brandina da Conceição Resse, esposa do sr. Victor de Almeida Resse, proprietario, residente nesta capital.
A extincta, que era muito relacionada nesta capital e bem-quista no seio de suas relações, foi casada em primeira nupcias com o sr. João Baptista Botelho e em segunda nupcias com o cel. Antonio Evangelista da Silva, chefe politico de Santa Cruz do Rio Pardo.
Deixa a extincta os seguintes filhos: d. Ritta Evangelista Piedade, casada com o sr. Ataliba Piedade Gonçalves, residente em Espirito Santo do Turvo; João Evangelista da Silva Netto e senhorita Alice Evangelista da Silva, residente nesta capital.
Era irmã dos srs. Osorio N. Gonçalves, Antonio N. Gonçalves, Alfredo A. Gonçalves e Francisco A. Gonçalves, e das sras. dd. Clementina Gonçalves, Maria Julia Gonçalves, Carmelina Gonçalves e Palmyra R. Bueno." (Correio Paulistano, 19/07/1929: 7).
— Em nota manuscrita da família Resse Pedroso consta uma anotação: "Dona Guilhermina falleceu no dia 18 de junho [sic] -1929-" (CD: A/A - Memórias de Família), com erro do mês que não altera a lembrança de dona Guilhermina no seio familiar Resse - vide cópia ao final do texto.
Victor de Almeida Resse possuía imóveis conhecidos em São Paulo, Santo André e São Bernardo. Dele se sabe presente em alguns eventos sociais na capital, de 1938 a 1946 (CD: A/A), apresentado por carta do Sr. Carlos Soares Baptista à Diretoria de Inspeção e Fomento Agrícolas para a praticagem no serviço de classificação do café (DOSP 24/05/1931: 4.300), anos depois nomeado porteiro do Hospital Psiquiátrico do Mandaqui (DOSP, 28/09/1938, Departamento de Saúde do Estado), e, em 25 de março de 1949 foi ele transferido para a Divisão do Serviço de Tuberculose de Departamento de Saúde, como Fiscal Sanitário (DOSP, 25/03/1949:4), vindo a falecer pouco depois, em São Paulo, aos 18 de abril de 1949, deixando bens a inventariar.