domingo, 20 de dezembro de 2009

02. Civilizações estrangeiras na América pré-colombiana

1. Povos celta e viquingue
A presença celta em continente americano, séculos antes de Colombo, é hoje acontecimento provável e teria, inclusive, ciência da Santa Sé que lhe cobrava impostos e os dízimos da produção pesqueira.
A guilda não era nenhum segredo, senão a rota utilizada para as pescas nas costas americanas; as nações europeias, a exemplos de França, Noruega e Portugal, até preferiam mercadorias do gênero já colocadas em seus portos, que aventurarem-se numa viagem que entediam além de seu próprio alcance, por motivos tecnológicos, financeiros ou de conhecimentos de navegação (Kervran, 1984: 4-14).
A presença celta na América do Norte parece correta na visão do arqueólogo Frederick Pohl, descrita em sua obra 'The Last Discovery', apresentada em a 'Descoberta da América' (Novo Milênio, 2002: 7):
—"Em Newport, em região de Boston, uma torre intriga os arqueólogos há vários séculos. Em seu livro, The Last Discovery, o arqueólogo americano Frederick Pohl refere-se a ela nesses termos: "Uma das funções prováveis da torre de Newport, segundo sua estrutura, era a de fortaleza. O único acesso aos andares superiores era por uma porta que ficava a 4,5 m do chão, exigindo o emprego de uma escada que era facilmente levantada por uma corda."
Trata-se de torre norte-americana, anterior à oficialidade da descoberta da América, obra assemelhada à autêntica Clonmcnois na Irlanda: 
—"A torre americana é única. Na Europa, ela existe em série. Realizei pessoalmente um trabalho de aproximação entre a torre de Newport e a torre céltica de Lanleff que se encontra nas costas do Norte. Os documentos fotográficos, nesse caso específicos, não revelam apenas uma simples concordância, mas uma semelhança verdadeira."(Novo Milênio, Descoberta da América, citação de Gérard Lavallée, 2002: 8).
A despeito dos segredos das rotas marítimas, os celtas não eram os únicos que conheciam costas americanas. Os viquingues também chegaram, pouco depois, seguindo os celtas, porém a contrário destes que se dedicavam apenas à pesca e religião, optaram pela dominação e o comércio madeireiro trazendo para a Europa o pau-brasil, igualmente manter em segredos descobertas e conhecimentos.
Aos viquingues atribui-se o original 'Mapa Vinland' - sumido após ser redesenhado no século XIII, por isso as dúvidas quanto a sua autenticidade, mostra as costas da Europa, Açores e parte da América do Norte, com a descrição da saga de Leif Eiriksson, o norueguês filho de Erik, o 'Vermelho', que por volta do ano 1000 chegou à terra de Vinland (Louth 1979: 277-282).
A estudiosa norueguesa naturalizada norte-americana, Kirstein A. Seaver, ao descrever o Mapa Vinland, verteu do latim para o inglês texto ao alto do mapa, à esquerda:
O célebre Mapa Vinland (1423-1445: Acervo Universidade Yale-USA - autor desconhecido.
—"By God’s will, after a long voyage from the island of Greenland to the south toward the most distant remaining parts of the western ocean sea, sailing southward amidst the ice, the companions Bjarni [byarnus] and Leif Eiriksson [leiphus erissonius] discovered a new land, extremely fertile and even having vines,the which island they named Vínland. Eric [Henricus] legate of the Apostolic See and bishop of Greenland and the neighboring regions, arrived in this truly vast and very rich land, in the name of Almighty God, in the last year of our most blessed father Pascal, remained a long time in both summer and winter, and later returned northeastward toward Greenland and then proceeded in most humble obedience to the will of his superiors." (Seaver, 2010: 212).
O texto, traduzido para o português, pode ser lido:
—"Pela vontade de Deus, depois de longa viagem da ilha da Groenlândia para o sul em direção às mais distantes partes remanescentes do mar do Oceano Ocidental, navegando para o sul em meio ao gelo, os companheiros Bjarni e Leif Eiriksson descobriram uma terra extremamente fértil tendo até videiras, a qual ilha eles denominaram Vinland. Eric, legado da Sé Apostólica e bispo da Groenlândia e das regiões vizinhas, chegou nesta terra verdadeiramente vasta e muito rica, no último ano de nosso bem-aventurado pai Pascal permaneceu um longo tempo no verão e no inverno, e mais tarde voltou em direção ao nordeste rumo à Groenlândia e, em seguida, prosseguiu em mais humilde obediência à vontade de seus superiores."
Os viquingues aportados no Golfo do México e interiorizando-se, realizaram importante obra civilizadora junto aos Astecas, Maias e tribos confederadas a estes povos. Renegados e expulsos pelos seus patrocinados, antes do ano 1.000 [967/987], desceram mais para o sul, em terras já conhecidas e de onde exploravam o comércio madeireiro – pau-brasil para a Europa. 
Sabe-se que pelo menos um dos grupos se instalou na costa atlântica, onde a Venezuela, para, numa travessia terrestre de noventa anos, passando pela Colômbia, chegar ao Equador, no Pacífico, onde se estabeleceu sua descendência, o Povo Atumuruna, para alcançar o Peru e formar o grande Império Tiahuanaco, por volta do ano 1.100 da Era Comum.
A presença viquingue na América pode ser comprovada pelo seu intermédio comercial do pau-brasil com a Europa, mercadoria corrente em quase todos os portos do 'velho continente', desde a Idade Média, (Spalding, 1954: 42-59), como especiaria de preço, e sobre ela incidiam tarifas alfandegárias.
A madeira gênero 'Caesalpinia' conhecida por 'Brazilis', ou outros tantos nomes próximos que lhe atribuem, não era exclusividade americana; a Ásia também possuía semelhante lenho cuja essência extraída é própria para tingimentos de tecidos, e chegava aos portos europeus, conforme consta de registros alfandegários, em Veneza, Ferrara e Módena, entre os locais capazes de aportar os navios de maior calado. 
Alguns autores admitem, até, uns poucos toros transportados pelos árabes aos europeus em embarcações pequenas e inadequadas, pelo Mar Vermelho, e depois arrastado pelas terras do Egito até o Mediterrâneo.
Porém o transporte em larga escala que aparecem em registros de Espanha e França, se de procedência asiática somente seria possível sua embarcação pelo entorno africano, Índico-Atlântico, conforme Antonio Matoso ao Príncipe Dom Henrique, "que a África era circunavegável demonstrava-lhe o atlas de Marino Sanuto, incluído no seu Secreta Fidelium Crucis, ou o Petrus Vesconde, datado de 1320, que deviam ser-lhe familiares" (Antonio Matoso, História de Portugal, apud Tajajós, 1963: 14), tratando-se de roteiros e mapas tidos por cópias de portulanos fenícios, que atestavam possibilidades de se contornar o continente africano. 
Admissível, mas nenhum povo, desde o cartaginês do século III a.C, reunia condições tecnológicas e de equipamentos para tais empreendimentos de grande monta, o que não se fazia na época de Dom Henrique, daí a se concluir que as espécies apanhadas seriam originárias da América Central ou do Sul – região do Brasil. 
Há reconhecimento histórico que os contatos celtas, entre a Europa e a América, foram interrompidos entre meados do século XII ao final do XIII, restabelecidos no século XIV "numa nova forma: os barcos iam pescar ao largo das costas da Terra Nova e da Groenlândia, mas não havia mais implantação na América", conforme destaques de Kervran (op.cit), esclarecendo que os celtas americanos teriam sido dizimados pela peste negra trazida da Europa, além da constatação degenerescência em esqueletos de mulheres traços que as tornavam estéreis. Já os descendentes viquingues americanos deixaram de se relacionar com os europeus quando das suas obras civilizatórias na América do Sul, costas do Pacífico, e desaparecidos seus últimos mercadores do lado Atlântico.

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Atualizações: notas dos autores, outubro de 2021:
1. Em outubro de 2021 a autenticidade do Mapa foi colocada em dúvida, destacadas inconsistências que provam-no falso, o que, em nada altera a presença Viquingue em América (https://visao.sapo.pt/atualidade/mundo/2021-10-04-mapa-viking-da-america-do-norte-de-1440-e-afinal-uma-falsificacao-do-seculo-xx/); acesso em 04/10/2021).
2. Também, em outubro de 2021, publicações diversas citam que, efetivamente, os Viquingues chegaram à América quase quinhentos anos antes de Cristovão Colombo, citando diversas comprovações, a exemplo, que "Lascas de madeira e uma explosão solar registraram chegada dos vikings ao continente americano em 1021, 471 anos antes de Colombo." (https://www.terra.com.br/noticias/ciencia/como-uma-explosao-solar-registrou-a-chegada-dos-vikings-a-america,fc6bffc17784ee580e11cf346258abe1pr9u1pis.html); acesso em 22/10/2021.  
Concluem os autores, impossível que os viquingues, seguindo os celtas, ou, ainda que por acaso uma primeira vez em América, não tivessem traçado uma rota marítima, com mapas descritivos das costas 'descobertas', para as viagens seguintes.
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2. Os ibéricos
Kervran (op. cit.) assegura que o próprio Colombo esteve em costas americanas no ano de 1477, portanto quinze anos antes da histórica navegação de 1492, valendo-se da rota da 'Guilda dos Pescadores Celtas', conhecida por 'Caminho dos Nórdicos', que lhe fora entregue pelo comandante da embarcação pesqueira Coatelem, na Ilha Brêbat. Colombo, antes de oferecer seus serviços a Portugal e Espanha, teria residido na Islândia, local a caminho de Terra Nova e Canadá, pela mencionada rota.
Enquanto Colombo em 1487 buscava financiamento para sua viagem, Portugal já possuía mapas descritivos da Pérsia, Egito, Índia e toda costa africana pelo Índico, além dos conhecimentos das rotas marítimas que os persas, os árabes e hindus utilizavam para comércio com as antigas regiões de Taprobana [Ceilão, atual Sri Lanka[, Malaca [na Malásia], Molucas, Sumatra, Timor, Catai [China] e Cipango ou Jipangu [Japão]. 
Ora, Portugal contava com os conhecimentos dos 'Cavaleiros da Ordem de Cristo', a nova denominação para os Templários admitidos no reino. Conhecedores de todo Oriente Médio e com acessos a documentos de navegações e grandes viagens transoceânicas, aos Templários, ou Cavaleiros da Ordem de Cristo, não seriam segredos o entorno do continente negro, caminho utilizado pelos fenícios, pelo menos desde mil anos antes da era comum. 
Também Portugal valeu-se de eficiente rede de espionagem, destacados os espiões Pero Covilhã e Afonso de Paiva, este morto por doença na jornada, que por terra chegaram ao norte da África, à Pérsia e, pelo menos o primeiro, também em Índia e reinos das costas da África Oriental, a exemplos de Moçambique e Abissínia, atual Etiópia (Barros, 1997: 6).  
Portanto, conhecedor da rota das especiarias e capaz de fazê-la em segurança relativa, mais pelos perigos do mar, Portugal sabia como e onde encontrar a Índia ou qualquer outro ponto asiático, pela África Cabo das Tormentas / da Boa Esperança ou pela América do Sul Cabo de Horn, no Estreito de Magalhães.
O reino lusitano estava ciente que Colombo, em 1492, não havia chegado ao Oriente, nem em terras além-mar nunca dantes vistas por algum europeu, afinal seus navegantes sabiam do outro lado do Atlântico onde, desde o século X, monges celtas irlandeses e viquingues haviam fixado colônias.
Se a Espanha, às turras com os mouros em seu território, ignorava a América, resolvido seu problema doméstico despertou o interesse pelas terras noticiadas por Colombo, para seu início expansionista além fronteira.
Do interesse espanhol em explorar as 'novas terras', a reação portuguesa foi imediata e somente satisfeita com a celebração do Tratado de Tordesilhas, em que todas as terras não cristãs descobertas ou a descobrir, situada até 370 léguas de uma das ilhas do Cabo Verde pertenceriam a Portugal, e para além seriam as posses espanholas.
Marco [réplica] em Ilha do Cardoso - Cananéia - assinalando
os limites das terras portuguesas pelo Tratado de Tordesilhas 
—"Um marco de pedra – padrão – posto na Ilha do Cardoso, que hoje encontra-se no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro no Rio de Janeiro, existindo no local uma réplica. Este marco ganhou o nome de Itacoatiara (pedra com desenhos em tupi) dos indígenas, e posteriormente, acabou por tornar-se o nome de uma das praias da ilha, onde ficou por muito tempo, e que hoje é conhecida como Itacuruçá (pedra com cruz em tupi). Colocar um padrão era uma forma de assinalar o limite dos domínios portugueses, sendo este marco popularmente chamado de Marco do Tratado de Tordesilhas." (Locacinoca, 2009: 8).
O imaginário do Tordesilhas era desde Touros, em Rio Grande do Norte, à Cananéia, no litoral paulista, lugares onde fixados os marcos territoriais dividindo a América do Sul entre Espanha e Portugal.
—Os marcos originais se encontram, atualmente, o de Touros em Natal, e o de Cananéia no Rio de Janeiro, com réplicas nos locais de origem.
Com o Tordesilhas, Portugal garantia direito não apenas sobre partes do Brasil, antes mesmo de sua descoberta, mas sobre todas demais terras da África e do Oriente, achadas ou a aquelas a achar, dada esfericidade da Terra, cabendo à Espanha tão somente partes orientais para além das Ilhas Molucas, ou seja, um quase nada, excetuando suas conquistas americanas. Era isto que interessava a Portugal naquele momento histórico. 
A linha de Tordesilhas, na Indonésia, dava Molucas a Portugal, mas a Espanha se sentindo prejudicada ocupou-as militarmente até que selado o acordo final, quando Portugal acabou por comprá-las a um alto preço para evitar uma guerra, que certamente lhe seria muito mais cara e desinteressante, até porque o limite imposto pelo imaginário Tordesilhas nunca ficara bem definido, e nem se sabia a partir de qual ilha do Arquipélago Cabo Verde eram contadas as léguas, e se estas seriam espanholas ou portuguesas, marítimas ou terrestres, todas de medidas diferentes e jamais acordadas. 
Na América do Sul os portugueses contavam o imaginário Tordesilhas a partir do 'extremo ocidental da mais ocidental ilha [Santo Antão] do Arquipélago Cabo Verde', ou seja, passando por Belém ao norte e Laguna ao sul, enquanto aos espanhóis o corte sul ocorria em Iguape, com certa tolerância para Cananéia, onde Portugal já desembarcara seus degredados judeus; daí o imaginário desde Touros, no Rio Grande do Norte, à Cananéia, no estado de São Paulo, onde colocados os marcos divisórios.
Essa indefinição, um quase nada diante do tanto a dispor, jamais foi solucionada enquanto vigorou o tratado, embora os espanhóis assumissem rápido o controle desde o sul de Cananéia, inclusive interiorizando-se por quase todo Paraná [então espanhol], Paraguai, Bolívia e Peru.
Apesar das tantas falhas geográficas e divergências políticas entre Portugal e Espanha, em 1506 a Santa Sé enfim ratificou os termos do Tratado de Tordesilhas, definindo as divisões do mundo extra-europeu não cristão, em duas partes, espanhol e português. 
Às pretensões monopolistas portuguesas e espanholas com as bênçãos da Santa Sé, reagiram os franceses, os ingleses e os holandeses, então a infringirem os monopólios de Portugal e Espanha; e, às reclamações portuguesas contra os entrelopos franceses, respondeu Francisco I, rei de França, com a célebre frase do anedotário histórico, de domínio público: 
—"Não conheço, no testamento de Adão, nenhuma clausula que dê o mundo todo a Portugal e à Espanha" ou, segundo outra versão, "gostaria de ver a cláusula do testamento de Adão que me afastou da partilha do mundo".