domingo, 20 de dezembro de 2009

07. Expedições ibéricas em América do Sul - Século XVI

07.1. Reconhecimentos territoriais e as dominações
Sebastião Caboto - imagem de domínio público

A Espanha procurava conhecer melhor o seu território para delimitar as fronteiras com Portugal.
O navegador italiano Sebastiano [Sebastião] Caboto, a soldo da Espanha, fez reconhecimentos dos rios da Prata, Paraguai, Paraná, Iguatemi, Santo Anastácio, Paranapanema e Tietê, em 1526, conforme textos compreendidos no seu diário de bordo. 
No mesmo ano de 1526, numa demonstração que a Espanha procurava bem delimitar seu território, Capitão Jorge Sedenho [Sedeño], numa incursão espanhola pelo rio Tietê guerreou com índios (Jorge Junior, 30-07-1967). 
Jorge Junior dá conta das presenças de Sedenho e Cabot, mas os objetivos das incursões e outros detalhes são imprecisos. No mesmo capítulo aquele autor assinala presenças de outros espanhóis estabelecidos junto à foz do Rio Piquiri, fundadores da povoação Cidade Real de Guaíra – 'Ciudad Real Del Guayrá', em 1537, como núcleo de apoio para caçadores de índios, que praticavam seus ofícios a partir dos rios Paraná com Paranapanema, até altura do Tibagi. Pouco mais tarde, na confluência dos rios Corumbataí com o Ivaí, seria fundado Vila Rica do [del] Espírito Santo. 
O historiador Eduardo Bueno narra a presença, os feitos, as alianças e desentendimentos de Caboto em missões na América do Sul (Bueno: 1998: referências diversas). 
Os estudiosos Noelli e Mota, em trabalho conjunto, apontam uma série de viagens de reinóis e colonos hispanos pela Peabiru São Vicente, quase todas a partir de Assunção e a passar por regiões do Paranapanema, então grande parte dentro de território espanhol (Noelli e Mota, 1999).
Destas expedições algumas são destacadas neste trabalho e outras acrescidas, por exemplo, a expedição comercial sob comando de Cristóvão de Saavedra, vindo de Assunção a São Vicente em 1551.
Hernando de Salazar também realizou uma caminhada de Assunção a São Vicente, no ano de 1552, a mostrar certa regularidade de tráfego e comércio entre São Vicente e Assunção.
Os espanhóis caçavam índios e procuravam riquezas naturais de ambos os lados do rio Paranapanema até proximidades do rio Capivara, pelo lado paulista, e do paranaense rio Tibagi, embrenhando-se mata adentro por trilhas indígenas às margens daqueles rios.
Ruy Dias Melgarejo, em 1553, partiu de Ontiveros (Província do Guayrá no antigo Paraná espanhol) com destino a São Vicente, trazendo milhares de índios aprisionados e mercadorias prontas para entregas em São Vicente. Melgarejo permaneceu no Brasil por dois anos, até 1555, quando retornou a Assunção pela Peabiru Santa Catarina.
A chegada e partida de Melgarejo do Brasil são oficiais, mas o que veio efetivamente fazer e o porquê de sua permanência não tem apoio histórico oficial.
Para Noelli e Mota, o Melgarejo teve destacado papel entre os conquistadores espanhóis ao participar da fundação de Cidade Real de Guayrá, na foz do rio Piquiri, e do segundo assentamento de Vila Rica do Espírito Santo, foz do rio Corumbataí, enquanto José Jorge Junior e outros autores confirmam tais localidades fundadas entre 1537 e 1539, respectivamente, portanto antes da própria presença de Melgarejo na América do Sul ocorrida em 1541 (Jorge Junior, 30/07/1967).
Inquestionável, o Vale do Paranapanema estava nos caminhos de passagem da histórica Peabiru na parte que, de São Vicente - no Atlântico estendia-se até o Oceano Pacífico, um caminho percorrido por indígenas, com tráfego bem mais agitado, porém, quando das andanças do homem branco recém-chegado às terras da América do Sul.
Tais viagens comprovadas e aquelas ausentes do compendio histórico, chamaram atenções do Governador Geral do Brasil, Tomé de Souza, quanto à prática exagerada de contrabando espanhol em partes do Brasil, do uso indevido do Porto de São Vicente, além da aparente ameaça ocupacional ou de exploração às terras de Portugal, quando espanhóis nelas entravam para procurar riquezas naturais ou capturar índios para as 'encomiendas', um ou outro com intenções de fixação. Tomé de Souza tencionou, até, fechar o trânsito da Peabiru. 
Ulrich Schmidel, alemão a serviço militar dos governos paraguaios [de Fernando Mendonça, Domingos Martinez Irala e Álvaro Nuñez Cabeza de Vaca], chegou a São Vicente, em visita oficial, para discutir uso portuário e traçar diretrizes do caminho Peabiru, no ano de 1553.
O mesmo Schmidel já havia feito o caminho de Santa Catarina a Assunção anos antes, em 1541, juntamente com Melgarejo, na expedição de Cabeza de Vaca.
A despeito da visita e discussão diplomática de Schmidel com representantes brasílico-portugueses, Tomé de Souza resolveu proibir mesmo o uso daquela estrada em território brasileiro, consequentemente fechando o porto São Vicente aos espanhóis, conforme citada carta de 1o de junho de 1553 ao rei de Portugal.
Não era apenas o contrabando. Também havia a preocupação de defesa territorial com as aparentes invasões hispânicas ao Brasil, porquanto os espanhóis tinham sua própria Peabiru, a partir de Santa Catarina, toda ela por território então espanhol, de maneira nada a justificar o uso da estrada de São Vicente e seu porto pelos hispano-americanos.
Os espanhóis utilizavam Cananéia ou pouco abaixo desta, para se chegar à Peabiru Santa Catarina, na altura de Ponta Grossa [PR], por considerá-la dentro de suas possessões pelo Tordesilhas.
O caminho Peabiru foi, portanto, de suma importância para a interiorização europeia ainda que conhecida somente o período pós Cabral, ou sejam, os bandeirantes, os soldados, os religiosos, muitos aventureiros e os escravos indígenas e negros, todos grandes artífices do Brasil futuro, na visão dos historiadores.
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