domingo, 20 de dezembro de 2009

- Timburi-SP

Página em reforma, 29/12/2022
1. A lenda dos posseiros do século XVIII
'História do Distrito de Timburi' - Pde. Bento Gonçalves Queiroz
Cópia do original oferecido por Noir José Rodrigues 
Segundo antigas memórias, no Sertão do Paranapanema-Itararé de 1799/1800, certo Francisco Ferreira dos Santos, sua mulher Maria Prudência de Oliveira, que viria ser conhecida como "Maria Ferreira", idade de 16 anos, e o filho Antonio ainda de colo, chegaram aonde o atual município paulista de Timburi, provenientes de Ouro Fino-MG, após passagem por Jaú-SP.
Francisco Ferreira dos Santos teria cometido grave crime de morte em Ouro Fino. O feito precedeu a todos os demais desbravadores do último inculto rincão paulista, por meio século.
O padre Bento Gonçalves de Queiroz, português de origem, pároco em Timburi-SP entre os anos de 1911 e 1937, quando na qualidade de subprefeito da localidade, então vinculada ao município de Piraju-SP, ofereceu a narrativa titulada 'História do Distrito de Timburi', aos 20 de setembro de 1922, revelando em detalhes a chegada do casal Ferreira dos Santos com o filho, e, depois, as famílias pioneiras e as primeiras fazendas.
O reverendo padre escreveu sua crônica fundamentado naquilo que lhe contaram os pioneiros e descendentes, sendo a sua descrição compilada em 1949 por João Vianna Simões, e, depois, em outubro de 1961 publicada pela Prefeitura Municipal da localidade. 
A família se estabeleceu segura à margem direita do Rio Itararé, onde nascidos os outros filhos: Emigdio, Bento e José, sem muitos detalhes a respeito, sendo que "Maria Ferreira", por necessidade, tornou-se 'cabeça do casal', obrigada a negociar em Itapeva peles de animais, doces em conservas, produtos agrícolas excedentes e porcos conduzidos vivos, enquanto o marido compelido a viver oculto nas matas, por décadas sem se aproximar dos povoados, temendo ser revelado.
A exposição do reverendo padre Bento Gonçalves de Queiroz tornou-se oficial e, sobre ela, sem questionamentos, todas as demais publicações sobre a formação de Timburi. José Carlos Pedro Grande, do Conselho Nacional de Geografia, enfeixou em sua obra, 'Mineiros fundam cidades paulistas', que Timburi devia sua origem, "por volta de 1800, aos mineiros Francisco Ferreira dos Santos e Maria Prudente de Oliveira, de Ouro Fino, no Sul de Minas, que, fugindo à justiça, se estabeleceram na região, então inóspita." (Diário de Notícias, Rio de Janeiro-RJ, 20/09/1953: 27).
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, em sua Enciclopédia dos Municípios Brasileiros, 1958 - Volume XXX, Timburi: 361-362 seguiu na mesma direção, trazendo informe sem dúvidas extraído da obra do padre Queiroz.
Durante anos a formação oficiai timburiense, sem dúvidas inspirada no padre Queiroz, figurou na página eletrônica da municipalidade:
"Fundadores do Município de Timburi
No último ano do século XVIII, Francisco Ferreira dos Santos e sua esposa Maria Prudência d’Oliveira, também conhecida por Maria Ferreira juntamente com um filho aportaram nesta terra e se fixaram, aproximadamente, a uma légua acima ada confluência do rio Itararé com o rio Paranapanema; ali criaram uma roça e viveram por muitos anos, cujo local, hoje, constitui o município de Timburi.
Somente em 1850 essas terras registradas pelo irmãos Joaquim e José Ribeiro Tosta, devido a impossibilidade de Francisco Ferreira dos Santos registrá-las por haver cometido um grave delito em Ouro Fino, Minas Gerais, onde era radicado.
A parte das terras que se localizava a margem direita do Itararé, vendeu-as a Benedito de Tal que por sua vez passou-as a João Batista de Paiva, procedente de Minas, Alfenas, cuja posse está registrada em escrituras com data de 06 de novembro de 1849 na comarca de Faxina. Estas terras abrangiam aproximadamente ¼ da área do distrito de Timburi. O seu filho, Francisco Paiva, fez nessa área um retiro para criação de porcos, o que veio trazer para esse município o seu primeiro nome: Retiro.
Essas terras foram transferidas por venda a diversas pessoas, até que seu último possuidor, Pedro Dias Ribeiro, fez a primeira doação ao Patrimônio Eclesiástico, cujo ato motivou a criação da primeira capelinha.
A posse de Água Preta foi feita por João Antonio Leal; a água do Poço do Dourado, foi apossada por Domingos Antonio de Lima e da Areia Branca por João da Cruz Pereira.
A Água do Palmital pertenceu, inicialmente, a José Alves Machado, do Rio de Janeiro, que por sua vez foi vendida a Domingos Pereira Fernandes, de Botucatu, a cujos herdeiros pertenceu a maior fazenda do Município. Um deles, o Major José Pereira Fernandes, deu ao Retiro o nome de Santa Cruz do Palmital. Estava, assim, estruturada a povoação do nascente Distrito." (Cópia Digitalizada em Arquivos dos Autores - CD: A/A, 23/09/2010; publicação essa posteriormente excluída do sítio eletrônico do município, conforme verificação última aos 21/09/2022).
"Maria Ferreira", já viúva, alienou as terras que entendia suas à margem direita do Itararé.
Inegável a presença de "Maria Ferreira" no Sertão do Paranapanema-Itararé, mulher pioneira crescida no imaginário popular, fundadora de dois povoados, abridora de caminhos e enfrentadora dos perigos naturais de lugar agreste, desde ataques indígenas, em forras ou não, às bestas feras, inclusive a sobrepor-se à macheza do sertanejo habituado no sistema patriarcal que, à mulher, reservava-se tão somente o espaço doméstico para os cuidados do lar e para a procriação, além da obediência servil ao marido, o 'cabeça do lar'. "Maria Ferreira" figura desbravadora e não fundadora de Timburi.