domingo, 20 de dezembro de 2009

Joaquim da Costa e Abreu - o povoador botucatuense de 1830

1. Quase um desconhecido na história botucatuense
Jamais dado o devido valor ao tropeiro povoador de Botucatu, nos anos de 1830, Joaquim da Costa e Abreu, cuja memória apagada pela inegável contribuição do capitão José Gomes Pinheiro à história do lugar, onde possuidor de terras desde 1808, mas não um povoador, assim como não o foi o seu genro, capitão Tito Correa de Mello que, somente décadas depois, chegaria a Botucatu para subverter a história e se fazer, aquilo que não foi, o responsável pelo desbravamento do último rincão inculto paulista, iniciado nos anos 1850/1851, entre os rios Tietê e Paranapanema, desde a descida da Serra Botucatu às barrancas do Rio Paraná (https://celsoprado-razias.blogspot.com/2009/12/razias-capitao-tito-o-iniciativo.html)
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Os tantos homônimos Joaquim da Costa Abreu dificultaram, sem dúvidas, identificação do povoador do capenga lugarejo, em 1830 conhecido por Nossa Senhora das Dores do Cimo [eu em Cima] da Serra, citado na história quase de passagem e erroneamente. Antigas referências diziam da chegada de Costa e Abreu acompanhado dos irmãos, assim entendiam, Euzebio e Francisco, ambos com os sobrenomes Costa Luz, além dos filhos Euzebio - o mesmo nome do tio; Francisco - xará do outro tio; Joaquim Ladislao ou Ladislau; e uma filha casada com Francisco Antonio de Oliveira. Com o Joaquim da Costa, ainda, a sua mulher Francisca Quitéria da Luz e duas filhas menores, Felisbina e Quitéria.
As referências asseguravam o Joaquim da Costa e Abreu natural das Minas Gerais, não se sabia bem de onde, Pouso Alegre ou Ouro Fino, tropeiro a serviço da 'Fazenda Sobrado', em atual município de São Manuel - SP, propriedade do sesmeiro portofelicense Domingos Soares de Barros. Ele, desde quando instalado com a família no Botucatu, distribuiu terrenos contíguos ao incipiente povoado, para instalações de moradias a dezenas de famílias mineiras e outras, convidas ou trazidas para o trabalho nas terras brutas no alto da Serra Botucatu.
Não foi assim. Os terrenos para edificações de moradias foram concedidos por Joaquim da Costa e Abreu como forma de pagamentos àqueles que se prestassem à evacuação indígena das terras ora pertencentes aos fazendeiros, ora aquelas livres de ocupações primárias que poderiam ser apossadas, e os principais nomes daqueles que chegaram a Botucatu, para conquistar terras - expulsando e massacrando autóctones, estão contados entre as famílias mineiras estabelecidas no Bairro Jacaré, em Araraquara, e, alguns, vindos de São João da Boa Vista.
— A história da formação botucatuense, pelos autores, encontra-se no endereço eletrônico: https://celsoprado-razias.blogspot.com/2009/12/botucatu-historico-oficioso.htm.
A necessidade de uma historicidade mais completa, sobre Joaquim da Costa e Abreu, motivou 'inquirição por espelho', detalhada, a partir daquilo que documentalmente se sabia, ou seja, os herdeiros de Joaquim da Costa e Abreu, morto em 1840, vistos donos de terras herdadas na Restinga do Capão Bonito, demandadas em 1846 pelo capitão Gomes Pinheiro, na Ação de Manutenção de Imóvel (Apud Pupo e Ciaccia, Fórum de Itapetininga, 1º Ofício, Arquivo 02 - Maço 40 - Ano 1846).

2. Pelos filhos revelado o certo e verdadeiro Joaquim da Costa e Abreu 'botucatuense' 

As pesquisas detalharam os seguintes filhos e filhas, conhecidos na vida adulta, nascidos do relacionamento amancebado entre os solteiros Joaquim da Costa e Abreu - Joaquim Costa ou da Costa - e Catharina Rodrigues às vezes com o sobrenome acrescido 'da Luz':

- Dionizio, o primogênito da solteira Catharina Rodrigues da Luz amancebada com Joaquim da Costa e Abreu:

— "Dionizio: Aos vinte e cinco dias de Março de mil settecentos e oitenta e nove annos nesta matriz de Santa Anna de Sapucay baptizei solennemente, e puz os santos oleos a Dionizio de idade de dez dias filho natural de Catharina Rodrigues, de pai incognito moradores na Vargem Grande: forão padrinhos Antonio Rodrigues Sene, e sua mulher Maria Correa da Purificcação: todos desta Freguezia, de que fiz este assento. O Vigario Manoel Negran [Negrão] de Monte Carmello." (Silvianópolis, Livro de Batismo 1766/1797: 294 – www.familysearch.org).

Dionizio não tem história conhecida no sertão botucatuense, nem aparece entre os herdeiros de Joaquim da Costa e Abreu, assim, depreendido morto na primeira infância.


- Ignacio
, filho da solteira Catharina Rodrigues da Luz com Joaquim da Costa e Abreu:

— "Ignacio: Aos trinta e hum dias de Dezembro de mil sette centos e noventa e tres, baptizei e pus santos oleos a Ignacio de sete meses filho natural de Catharina Rodrigues pai incognito moradores no Mandu [Pouso Alegre] forão [foram] padrinhos Antonio de Almeida e Dona Anna da Silva de Alvarenga todos desta Freguezia do que fiz este assento que vai assignado. O Vigario Manoel Negran [Negrão] de Monte Carmello." (Silvianópolis, Livro de Batismos 1766/1797: 394 – www.familysearch.org).

Ignácio foi casado com Francisca Prudencia de Oliveira nascendo-lhes filhos e filhas, com destaques para Maria Prudencia de Oliveira, vulgo Maria Ferreira, mulher pioneira no Sertão Paranapanema (https://celsoprado-razias.blogspot.com/2009/12/maria-ferreira-mulher-simbolo-do-sertao.html).


- Fabiana:

Batizada em Silvianópolis - MG aos 13/11/1797, idade de quatro meses, filha da solteira Catharina, neta materna de Joaquim José de Souza e de Maria Roza de Jesus, sendo padrinho Domingos Soares de Barros (Livro de Batismos 1797-1837: 155 - gentileza Emanuel Costa Luz). O pai é mencionado incógnito, porém, documentos posteriores revelariam Fabiana filha de Joaquim da Costa e Abreu, conforme Livro de Processos Matrimoniais de Pouso Alegre 1811/1812: 266-268, com o sobrenome Costa Luz, vindo a se casar com João Ribeiro Tosta, um dos herdeiros de Joaquim da Costa Abreu, citado numa transação de terras na Fazenda Cachoeira em Botucatu (Pupo e Ciaccia, 2005, E 27 pgs 132).

Domingos Soares de Barros, futuramente referido morador em Piracicaba [Constituição] distrito de Porto Feliz - antes Araritaguaba, foi fazendeiro e sesmeiro na atual região de São Manuel, Fazenda Sobrado, onde o seu conhecido e relacionado Joaquim da Costa e Abreu feito administrador e chefe de tropeirada. Soares de Barros teve terras também em Araraquara, no 'Bairro Jacaré', onde instalou famílias trazidas ou vindas do sul-mineiro, e lá bem transitava o Costa e Abreu.


- João da Costa:

Nascido da solteira Catharina Rodrigues da Luz e pai incógnito, que se sabe Joaquim da Costa e Abreu, João tem registro eclesial datado de 18 de maio de 1801, idade de dois meses, em Silvianópolis - MG (Livro de Batismo 1799/1818: 15). 

Referido João casou-se em Araraquara aos 30 de junho de 1822, com Joaquina Maria, filha do capitão José Joaquim e Maria Magdalena (Araraquara Livro Eclesial Misto - batismos, matrimônios e óbitos - 1817/1839: 38).

João não teve participação conhecida, até o momento, na história botucatuense e do Vale Paranapanema, onde presentes os seus demais irmãos conhecidos.


Euzebio da Costa Luz:

Documento eclesial de 07 de fevereiro de 1807, na mineira Silvianópolis, traz o batismo de "Euzebio, idade de quinze dias, filho de Catharina solteira; e de Joaquim de Soiza: (...)." (Livro de Batismo 1799/1818: 68). 
— O sobrenome Soiza ou Souza tratou-se de erro do redator do assento, por associação ao sobrenome do avô materno, Joaquim José de Souza, a não restar dúvidas ser o Euzebio filho de Joaquim da Costa e Abreu, tropeiro, filho de Ignacio do Amaral da Costa de Abreu – também conhecido por Ignacio da Costa Abreu – e dona Rosa Rodrigues.
Euzebio, filho de Joaquim da Costa, aos 24 de março de 1824 aparece como padrinho num batizado em Araraquara - SP (Livro Eclesial Misto, 1817/1839: 17), solteiro, idade não informada.
Aos 15 de novembro de 1830, outra vez o Euzebio citado padrinho num batizado, ao lado da irmã Jacintha, solteira, ambos, filho e filha de Joaquim da Costa(Araraquara, Livro de Batismos, 1820/1854: 7). O assento não diz Euzebio solteiro, portanto, implícito casado.

Em 1846 Euzebio da Costa Luz, político conservador é apontado entre os principais nomes na história de Botucatu, em substituição ao pai, dono de algumas propriedades inclusive a fazenda paterna herdada, com os irmãos, na Restinga do Capão Bonito, vista na Ação de Manutenção de Imóvel movida pelo capitão, político liberal itapetiningano, José Gomes Pinheiro (Pupo e Ciaccia, 2005, D-3: 62-77).

Na 'Lista de Votantes da Freguesia de Botucatu em 1852, 7º Quarteirão – Bairro Capivara', consta o nome de Euzebio da Costa Luz, casado, idade informada de 48 anos, eleitor sob o nº 120 (AESP, CD: A/A).

— Alguns conhecidos eleitores para Botucatu, ano de 1852, apresentam variações de idades de até cinco anos, para mais ou para menos.

Euzebio, o mais famoso dos irmãos e um dos pioneiros no avanço sertanejo de 1850/1851, bastante próximo de José Theodoro de Souza, foi casado com Anna Joaquina, filha do mineiro cabo-verdiano José Antonio Pereira e sua mulher Ursula Joaquina de Nazareth - 2º matrimônio (Pupo e Ciaccia, 2005, F 80 pgs 237 - testamento do sogro datado de 07 de setembro de 1857).


Jacintha: 

No batismo de 15 de novembro de 1830 a madrinha Jacintha é identificada como filha de Joaquim da Costa, idade não foi informada, apenas citada solteira, não se sabe se criança, todavia dela exigido o suficiente para a compreensão do ato religioso, exigência da Igreja, o que não poderia ocorrer antes de sua primeira comunhão, tradicionalmente entre os 7 e 8 anos de idade, porém, não necessariamente o batizado tenha ocorrido de imediato à sua inaugural eucaristia de Jacintha.

Ante a ausência de documentos que lhe possam atestar o nascimento, Jacintha solteira no evento de 15 de novembro de 1830, aos 08 de março de 1835 apresenta-se casada com Francisco Antônio de Oliveira, no batizado do filho José (Araraquara, Livro de Batismos, 1830/1854: 53). Catharina Rodrigues é a madrinha do próprio neto.

— A tratar-se de filho primogênito isto significa Jacintha matrimoniada, em algum tempo, entre os anos 1830 e 1834, mais propriamente 1834. Embora não incomum para a época mulheres se casarem aos 12 anos, não se pode sustentar documentalmente, nem mesmo por inferição, que ela com essa idade, ainda que possível, tenha gerado o primeiro filho em 1835.

Jacintha, filha de Joaquim da Costa [e Abreu] e Catharina Rodrigues, foi casada com Francisco Antônio de Oliveira, citado genro de Joaquim da Costa e Abreu na Ação de Manutenção de Imóvel, em 1846, sítio da Cachoeira, no Ribeirão da Cachoeira (Pupo e Ciaccia, 2005, D-3: 62-77).


Francisco da Costa Luz

Filho de Joaquim da Costa e Abreu com Catharina Rodrigues, sem registro de batismo, Francisco é anotado morador em Itapetininga, casado com Anna Thomazia no batizado do filho José em 07 de agosto de 1839 (Livro de Batismos, 1833/1843: 128), sendo Anna Thomazia a mesma Anna Joaquina da Luz, cuja presença registrada em Botucatu no dia 24 de junho de 1849 juntamente com o marido Francisco da Costa, como padrinhos de batismo (1849/1856: 24), e, logo depois, no batismo da filha Maria aos 12 de agosto de 1849 (Livro 1849/1856: 32).

Francisco, no ano de 1852, está relacionado eleitor nº 49 em Botucatu, 3º Quarteirão – Capão Bonito, idade de 38 anos (AESP, CD: A/A), portanto, nascido por volta de 1814.


- Joaquim Ladislao da Costa:

Filho de Joaquim da Costa e Abreu e Catharina Rodrigues, 26 anos, casado, eleitor, (AESP, Lista de Votantes da Freguesia de Botucatu, 1852, CD: A/A), herdeiro do pai na Restinga do Capão Bonito, em Botucatu, arrolado na citada Ação de Manutenção de Imóvel (Pupo e Ciaccia, 2005, D-3: 62-77).

Pela idade informada no rol de votantes Ladislao teria nascido por volta de 1825, contrastando com o assento eclesial que revela-o batizado a 11 de janeiro de 1819, idade de  'um mês', filho da solteira Catharina Rodrigues (Pouso Alegre, Livro de Batismos 1815/1823: 70).

— Registro batismal de 13 de outubro de 1805, lavrado em Silvianópolis - MG, de Joaquim, idade de vinte e dois dias, nascido de Catharina Rodrigues, no Mandu - antiga Pouso Alegre, (Silvianópolis, Livro 1799/1818: 66 - gentileza de Emanuel da Costa Luz), o qual compreende-se falecido em idade menor.


3. O relacionamento de Joaquim da Costa Abreu com Francisca Quitéria da Luz

Joaquim da Costa e Abreu e Catharina Rodrigues - sobrenome às vezes acrescido por 'da Luz', por anos amancebados, casaram-se aos 17 de agosto de 1822, em Araraquara – SP (Livro Eclesial Misto - nascimento, matrimônio e óbito, 1817-1839: 37), ele filho de Ignacio da Costa Abreu [Ignacio do Amaral da Costa de Abreu] e de Rosa Rodrigues de Jesus, ela de Joaquim Jose [de Souza] e Mariana Francisca.

Catharina, de acordo com documentos conhecidos até o momento, aparece pela última vez na história, em 1835, por ocasião do batizado de seu neto José, filho de Jacintha com Francisco Antônio de Oliveira (Araraquara, Livro de Batismos, 1830/1854: 53).

A ausência histórica de Catharina é preenchida em 1837, quando Joaquim da Costa Abreu contado morador no Ribeirão da Cachoeira, em atual Botucatu, ao lado da mulher Francisca Quitéria da Luz, viúva de Bernardino José de Lorena cujo óbito registrado aos 25 de janeiro de 1835 (Natercia - MG, Livro de Óbitos 1822/1872: 66).  

Joaquim faleceu por volta de 1840, deixando a viúva Francisca Quitéria da Luz, com duas filhas, Felisbina e Quitéria. As três mulheres, mãe e filhas na ordem citada, aparecem no maço populacional para Botucatu de 1846, com as idades anotadas/informadas de 43, 13 e 12 anos (Apud Toledo Piza, 2015: 194 e 269).

— Documentos, no entanto, informam Felisbina, batizada em Natercia - MG a 01 de janeiro de 1830 (Livro de Batismos 1822/1849: 108) e Quitéria, também natural da mineira Natercia onde batizada aos 27 de maio de 1832 (Livro 1822/1849: 128), ambas filhas de Bernardino José de Lorena e Francisca Quitéria da Luz.

— No ano de 1846, considerando datas dos batizados, as irmãs Felisbina e Quitéria teriam idades, respectivamente, em torno de 16 anos e 14 anos.

— Bernardino José de Lorena e Francisca Quitéria da Luz tiveram outros filhos e filhas (CD: A/A), sem considerações conhecidas na história da antiga Botucatu e Sertão Paranapanema.

Não localizado nenhum documento oficial que ateste algum Euzebio da Costa Luz por irmão de Joaquim da Costa Abreu, nem qualquer referência eclesial ou cartorial; da mesma forma, não encontrado nenhum Francisco da Costa Abreu ou da Luz que venha ser irmão de Joaquim da Costa e Abreu. Euzebio e Francisco, documental e inequivocamente são filhos e não irmãos de Joaquim da Costa e Abreu.

— Capítulo inserido aos 29 de maio de 2022, com cópias digitalizadas das referências em arquivos dos autores, inclusive dos documentos eclesiais, todos, pesquisados no sítio eletrônico

https://www.familysearch.org/pt/

— * Colaborou: Emanuel Costa Luz - descendente do Joaquim da Costa Abreu, estudioso da história familiar - Emanueluz@gmail.com