domingo, 20 de dezembro de 2009

- 'General' Ataliba Leonel

1. 'As gentes dos Leonéis'
Gal. Ataliba Leonel- foto de domínio
público
Dr. Ataliba Leonel Rolim, sobrenome materno, descendente de ricas e tradicionais famílias paulistas, nasceu em Itapetininga aos 15 de maio de 1875, filho do Major Marianno Leonel Ferreira e Dona Francisca Rolim Leonel Ferreira, batizado aos 26 de julho do mesmo ano pelo Reverendo Monsenhor João Soares do Amaral, e foram padrinhos Delphino Pinheiro Mello Cintra e Angelica Florença de Mello Cintra.
—Constam irmãos de Ataliba Leonel: Higino Leonel Ferreira, casado com Francisca de Oliveira; Marianno Leonel Ferreira Jr. Casado com Amelia Ramos; Francisca Leonel, casada com Tito Augusto de Toledo Black; Maria do Rosário casada com Antonio Joaquim Ferreira Braga; e José Leonel Ferreira, casado com Elisa Dias (Correio Paulistano, 03/07/1942: 3 – Subsídios Genealógicos – CLV).
Ataliba, pelo lado paterno era sobrinho de Joaquim Leonel Ferreira, Deputado Provincial em oito legislaturas entre os anos de 1870 a 1886. Outro tio paterno, o Comendador Eugenio Leonel Ferreira, consagrado poeta e autor de livros [eruditos] como Hera e Lyra Hebraica, experimentou a política e eleito Deputado Provincial para a legislatura de 1888 a 1889, já nos estertores do Império e o advento republicano; um tio-avô, Domingos Leonel Ferreira, foi suplente de Deputado Provincial nos idos de 1858/1859.
Também sobrinho, pelo lado paterno, de Dona Francisca Emilia Leonel Ferreira, esposa do Deputado Provincial em diversas legislaturas, o Coronel Emygdio José da Piedade, "gente dos Leonéis de Itapetininga, tia do General Ataliba Leonel" (Monsenhor Aluisio de Almeida, 1960: 56).
Do pai de Ataliba Leonel sabe-se qualificado, em 1857, 1º Alferes da Guarda Nacional – 2ª Cia, em Itapetininga (Correio Paulistano 13/02/1857: 2; e 02/12/1858: 1), e depois Tenente da Guarda Nacional da 3ª Cia em 1859 (Correio Paulistano, 14/05/1859: 3).
—Como oficial da Guarda Nacional o Sr. Marianno tinha preferências nas nomeações de cargos públicos, remunerados ou não, e nestas condições foi Suplente de Delegado de Polícia de Itapetinga, ou seja, quase sempre em exercício do cargo, na ausência do titular sendo este uma figura rara em meados do século XIX, e então quase sempre o Suplente de Delegado de Polícia era a figura representante da ordem e segurança pública de um lugar.Em 1863 o Sr. Marianno pediu exoneração do cargo (Correio Paulistano 19/05/1863: 1), algo comum, pedia-se porque um parente ou amigo envolvido em algum acontecimento, às vezes o próprio.
—O Diário de São Paulo, edição de 06/12/1867, trouxe nota sobre a nomeação do Sr. Marianno como Capitão da Guarda Nacional (06/12/1867: 3) e, aos 20/10/1868: 2, nomeado delegado de polícia (Diário de São Paulo).
—Pelo mesmo Diário de S. Paulo, edição de 12/01/1870: 2, Ato de Governo de 8 de janeiro daquele ano, foi exonerado, a bem do serviço público, do cargo de Delegado de Polícia de Itapetininga.
—Posteriormente, Marianno Leonel Ferreira foi nomeado pelo Decreto de 26 de julho de 1873 Major Comandante do Esquadrão de Cavalaria nº 10 da Província de São Paulo da Guarda Nacional, conforme ato oficial publicado pelo jornal Gazeta de Campinas, de 07/08/1873: 2, e assim é conhecido na história pirajuense.
Pelo lado materno Ataliba era neto Higino José Rolim de Oliveira e Maria do Rosário Ayres, aparentada de Paulino Ayres de Aguirre ou Aguirra, deputado provincial e suplente em sucessivas e alternadas legislaturas, por iguais e diferentes distritos eleitorais, iniciando na, 7ª legislatura, 1848/1849, como suplente assumindo cadeira; depois de 1850/1851 (8ª legislatura), como suplente; em 1852/1853, 9ª legislatura, também suplente; daí eleito para a 13ª legislatura, de 1860/1861; e depois outra vez eleito para a 17ª legislatura, 1868/1869.
Também parente materno do causídico Venâncio de Oliveira Aires, deputado provincial na 18ª legislatura, 1870/1871, consagrado republicano com forte atuação em Rio Grande do Sul.
Estes são alguns nomes ilustres da parentela ascendente de Ataliba Leonel, nomes representantes na política imperial, e depois republicana, estendendo trabalho para as regiões do sertão paulista a partir de 1870.
O pai de Ataliba adquiriu terras no Bairro Fartura, onde residiu com a família por algum tempo e depois fixou morada na Vila de Tijuco Preto (São Sebastião do Tijuco Preto, Piraju). O Almanaque Província de São Paulo, 1886: 480 cita Marianno Leonel Ferreira em Tijuco Preto, em 1885, dono de armazéns de fazendas e ferragens. 
Ataliba foi sacristão, 'coroinha', entre os 1886/1887, com idade entre 11/12 anos, nos tempos do Vigário o Reverendo Padre Pedro Gaggino de Montaldo (Almanaque da Província de São Paulo, 1887: 603 e 1888:703), o que evidencia arraigado catolicismo familiar e a influência do pai em tornar público o nome do filho, num tempo que somente nomes de adultos eram citados, raramente mulheres e crianças. 

35.7.2. O estudante 
Dr. Ataliba Leonel, estudou as primeiras letras em Fartura com prosseguimento em Piraju (Miguel Cáceres: Ataliba Leonel (...), 2008: 57), e depois teria frequentado as melhores escolas da Capital: o Seminário Episcopal e o Ateneu Paulista ministradores de curso preparatório para o ingresso em alguma faculdade.
—O Ateneu Paulista oferecia cursos completos: Primário, Intermediário e de Preparatórios (Correio Paulistano, 22/10/1892: 3).
—O Seminário Episcopal de São Paulo, apresentava o Curso Superior Teológico e Curso Inferior (cursos preparatórios), este com as disciplinas voltadas às formações vocacionais e as não vocacionais (Almanaque da Província de São Paulo, edição de 1873: 78; 1883: 172-173).O curso preparatório pelo Seminário Menor de São Paulo muito colaborou com a difusão do ensino secundário na província que simplesmente não existia, antes da fundação do Seminário.
Os Cursos Anexos à Faculdade de São Paulo - Cursos de Ciências Jurídicas e Ciências Sociais correspondiam ao ensino secundário, e eram os mais requisitados em São Paulo, e nestes Cursos Anexos encontram-se registros de frequência do aluno Ataliba Leonel Rolim entre 1891/1893 (Correio Paulistano, edições diversas).
Em São Paulo, Ataliba procurou ingressar no Curso de Direito, o seu objetivo pessoal ou familiar, num tempo que as famílias primavam por um filho padre, um doutor – médico, e um bacharel - advogado. 
O Correio Paulistano, de 26 de agosto de 1890: 3 trouxe, então, a primeira referência sobre o estudante Ataliba Leonel: "Editais: Faculdade de Direito de São Paulo. Resultados dos exames de preparatórios prestado em junho (...). Reprovados: (...) e entre eles Ataliba Leonel Rolim". Ataliba tinha 15 anos de idade.
—No histórico oficial de Ataliba não consta esta reprovação. 
Ataliba então ingressou no Curso de Ciências Sociais, com citações de sua vida escolar e de outros colegas na grande imprensa paulistana, entre os anos de 1891 a 1895, prática comum na época, como forma dos pais acompanharem, à distância, o aproveitamento dos filhos nas escolas. 
O jovem Ataliba bacharelou-se em Ciências Sociais aos 09 de abril de 1895. A folha O Democrata Federal destacou: "O sr. Ataliba Leonel Rolim, filho de nosso amigo major Marianno Leonel, rematou hontem, com approvação muito digna, o seu curso de Sciencia Sociais. (...). Ha de ser muito feliz provavelmente, attentas as suas qualidades, distinctas das inteligencia" (10/04/1895: 2). 
O mesmo O Democrata noticiou em 1º de maio de 1895, à página 2, "Partiu para Ouro Preto o sr. Ataliba Leonel Rolim, que vai concluir seus estudos jurídicos"; informação, também desconhecida no currículo de Ataliba. 
Em Ouro Preto, à época, existia a 'Faculdade Livre de Direito', e nela ingressou Ataliba Leonel, e ainda no primeiro semestre de 1895 concluiu satisfatoriamente esta primeira série de Ciências Jurídicas; no segundo semestre já convocado para a prova escrita da 2ª Série de Ciências Jurídicas (Minas Gerais, 02/07/1895: 6), e noutra publicação (09/07/1895: 7), comunicou a aprovação do aluno.
Em Ouro Preto, Ataliba teve intensa participação estudantil. O jornal 'O Estado de Minas', edição de 25/01/1896: 4, ao publicar um abaixo assinado intitulado À Mocidade, traz o nome de Ataliba Leonel, republicano, estudante de Direito na Escola Livre de Ouro Preto, entre os signatários da Carta em repudio os atos da Câmara Municipal daquela localidade contra a república brasileira. 
O mesmo 'O Estado de Minas', 15/03/1896: 4, informou Ataliba Leonel integrante da Comissão do Estatuto da Sociedade Beneficente Escolástica de Ouro Preto, fundada aos 14/12/1895. 
Pela folha Minas Gerais, edição de 20/01/1896: 4, Ataliba foi convocado para prestação de prova escrita da 3ª Série Jurídica daquela Faculdade de Direito de Ouro Preto, aprovado com êxito, restando apenas a 4ª série para conclusão efetiva do curso jurídico.
Ataliba Leonel, munido de seu currículo estudantil mineiro prestou prova oral para finalizar, ainda no primeiro trimestre de 1896 a 4ª Série Jurídica, na 'Faculdade de Direito de São Paulo', algo permitido e legal, e então diplomou-se em abril de 1896.
Ataliba Leonel Rolim não estudou na Faculdade de Direito de São Paulo, porém prestou exames para graduar-se com a Turma de nº 65 da Arcadas, e recebeu colação de grau aos 09 de abril de 1896, e no rol de graduados seu nome é seguido de dois asteriscos, significando sua condição de formado (Arcadas: http://www.arcadas.org.br/). 
Não estudando na Arcadas Ataliba Leonel não teve colegas de banco escolar os formandos geralmente mencionados em livros, apenas com eles colou grau, aliás tais colegas citados, por algum erro de pesquisa anterior, são da turma de nº 66, à exceção de Paulo Álvares Lobo que igualmente não cursou a Arcadas. 
—O sítio 'http://www.arcadas.org.br' ou o serviço de correspondência comprovam com clareza tais informações.
Aos 10 de agosto de 1896, às páginas 6, a folha 'Minas Gerais' ainda referenciou: "Da Sociedade Beneficente Escolástica, Ataliba Leonel sócio fundador efetivo".

3. O advogado 
Formado, Ataliba assentou banca advocatícia em São Paulo, como um dos sócios fundadores do Escritório 'Maria, Rolim e Prestes', iniciais dos sobrenomes dos associados, pouco depois transferindo-se para Piraju para o exercício da advocacia e os cuidados com as propriedades da família no ramo cafeeiro.
Referências ao escritório ‘Maria, Rolim e Prestes’, apud Novaes - Israel Dias, deputado federal, Diário do Congresso Nacional, 18/03/1982: 1035. 
Um dos primeiros casos de sua atuação como advogado foi noticiado pelo Correio Paulistano (05/01/1899: 2), na defesa de quatro réus em Piraju, e na acusação trabalhou o Sr. Benedicto Pinto de Mello na impossibilidade do titular Promotor Público, Dr. Washington de Oliveira, por incomodo de saúde em pessoa da família. Os quatro foram absolvidos.
—O jornal não mencionou os nomes dos absolvidos, todavia a história regional indica Messias José Vicente e seus filhos, acusados de crime de morte em Fartura.
Ataliba Leonel em tempos e circunstâncias, na comarca de Piraju, ocupou cargo de Auxiliar de Promotoria e Promotor Público, por nomeações emergenciais nas ausências do titular do cargo. 

4. O casamento 
Aos 08 de maio de 1897 Ataliba Leonel, com a idade de 22 anos, casou-se com a aparentada Dona Francisca (Dona Chiquinha) Leonel de Barros, de 14 anos de idade, nascida em Piraju onde residiam os pais, Joaquim Leonel Ferreira [Primo] e Dona Maria Vieira Leonel. 
O casal teve os filhos José Leonel, casado com Judith Villa do Conde; Jayme Leonel, casado com Sonia Scarpa; Maria do Carmo [Carminha] Leonel, casada com Geraldo Vergueiro; e Jarbas Leonel, casado com a viúva Therezinha Oliva – antes mulher de José Victor Oliva. Também lhes nasceu Adelaide falecida aos 11 de janeiro de 1902 (Correio Paulistano, 12/01/1902: 1).

5. O político
Escolheu a localidade de Piraju para advogar e administrar propriedades da família no ramo do cafeeiro. Irrequieto, contestador e vocacionado, Ataliba cedo se meteu na política local, pela oposição, disputando o pleito de 30 de outubro de 1898 - triênio 1899/1901, posse dada aos 07/01/1899; com 23 votos Ataliba não foi eleito.
A eleição foi tumultuada e de extrema violência, num intenso tiroteio entre os grupos do Major Marianno Leonel Ferreira - pai de Ataliba, e o Coronel Firmino Braga, resultando na morte de duas pessoas e diversos feridos.
—"(...) no dia 30 de outubro de 1898, dia designado para a eleição municipal, as sete horas mais ou menos da manhã, por questões politicas, dous grupos em que se dividia a população desta villa, um chefiado pelo finado major Marianno e outro pelo coronel Firmino Braga, levantaram um conflicto defronte da casa da viuva do finado Alexandre Balbino Cathala e defronte da casa do alferes Sathiro Pereira Passos, conflicto que durou dez minutos mais ou menos. De parte a parte foram disparados tiros, sendo que defronte da casa da referida viuva do finado Cathala, da casa de Manoel de Almeida sahiram muitos tiros por uns buracos que serviram para andaimes na construção da referida casa. Deste conflicto e tiros que deram, resultaram a morte de Antonio Benedicto da Rosa e de José Francisco Braz, os ferimentos graves do Coronel Firmino Braga, de José Gomes de Mello, de Eliziario Rodrigues da Silva e de João Valadão de Freitas; e os ferimentos leves de João Franco Martins e de Benedicto Bueno. Isto posto, a evidencia, está atente que com taes factos houve crime. Mas, para ter lugar a pronuncia, a lei exige duas condições: uma que o crime esteja plenamente provado; outra que se tenha conhecimento quem seja o delinquente, senão conhecimento pleno, ao menos conhecimentos firmados em indicios vehementes: artigo cento e quarenta e quatro e cento e quarenta e cinco do Codigo do Processo e artigo duzentos e oitenta e seis do Regulamento de trinta e um de janeiro de mil oitocentos e quarenta e dois." "Para se conhecer o delinquente portanto, não é preciso prova plena, é indispensavel, porém, vehementes indicios, sem o que não tem logar a pronuncia. P. Bueno em seu processo criminal, de accordo com as disposições citadas, qualifica os indicios que podem dar logar a pronuncia de indicios sufficientes e definindo-os diz – que são aqueles que podem gerar uma persuasão sincera. Portanto para ter logar a pronuncia, desde que não haja pleno conhecimento do delinquente, é necessário que existam indicios pelos quaes o juiz forme convicção que o indiciado é autor do delicto. Ora, as testemunhas que de deposerão neste processo, além de serem todas contraditorias uma com as outras em suas declarações, não se referem ás pessoas dos denunciados; pelo contrario, a maioria dellas diz – que na occasião do conflicto de que resultaram as mortes e ferimentos descriptos nos autos de fls, os denunciados estavam em logar onde não podiam tomar parte no conflicto. Apenas as testemunhas quinta e setima de folhas noventa e seis e noventa e sete e cento e tres e cento e cinco, a primeira de accôrdo com a sua referida Cathala, affirmam que viram os denunciados Dr. Ataliba Levino Sodré, Laurentino, José Delphino, Manoel de Almeida e Antonio Joaquim Ferreira Braga, desceram da casa do Dr. Ataliba em direcção á casa de Almeida e nella entrarem, não sabendo, entretanto, quaes as pessoas que deram os tiros, que occasionaram as offensas descriptas. É preciso notar-se que todas as testemunhas offerecidas e que depozeram no summario pertencem ou a um ou a outro grupo que se hostilizavam, e porisso seus depoimentos devem ser acceitos como de interessados. Suas declarações pouca confiança merecem, são de tal suspeição a ponto de não poder estabelecer no espirito do juiz um mente indicio, na expressão da lei, de que fossem elles os autores das mortes e ferimentos, pois nessa occasião havia um convicção sincera. Porem, dando como provado que os denunciados referidos pelas quinta e setima testemunhas fossem visto entrarem em casa de Almeida Fonseca, esta circumstancias isolada não póde considerar-se como vehe agrupamento de mais de oitocentas pessoas que tomavam parte na eleição municipal, causa geradora da lucta que se travou. Merecimento algum tem a declaração da quinta testemunha em dizer que o indiciado José Munhoz deu um tiro na bocca de um homem que cahiu morto, porque sendo chamada a pessoa que se referiu esta negou em absoluto o facto. Além disso, pelos autos de corpos de delictos e exames cadavericos, vê-se que não appareceu ninguem ferido na bocca. Assim sendo, me conformando o parecer do dr. promotor publico, que opina pela despronuncia, por falta de prova, e tendo em vista as disposições dos artigos cento e quarenta e quarenta e quatro e cento e quarenta e cinco do Codigo do Processo e duzentos e oitenta e seis de Regulamento de mil oitocentos e quarenta e dous e opnião de P. Bueno, julgo improcedente a denuncia de folhas oitenta e uma e oitenta e duas; pagas as custas na forma da lei. Apparecendo provas pelas quaes se verifique quaes as pessoas responsaveis pelos crimes constantes deste auto, instaure-se novo processo. Piraju doze de maio de mil oitocentos e noventa e nove. Simão Eugenio de Oliveira Lima. (...) Nada mais em ditos parecer e despacho de que dou fé. Piraju 15 de maio de 1899 o escrivão Cornelio Nepone de Carvalho".
—Transcrição do Correio Paulistano, de 20 de maio de 1899: 2, publicação feita pelo Ataliba, inconformado com a despronuncia do Promotor e a decisão do Juiz.
Uma Câmara tumultuada, insatisfações e disputas político-partidárias exacerbadas, alguns vereadores se resignaram dos cargos e, em nova eleição para preenchimento das vagas, aos 12 de agosto de 1899, Ataliba disputou uma das vagas e desta feita eleito com 248 votos, sendo escolhido secretário para a sessão de conferência e posse, e daí escolhido o Presidente da Casa, dando início à sua carreira política sobejamente conhecida, fundando e organizando o diretório municipal pirajuense do Partido Republicano Paulista - PRP. 
Exerceu a vereança sete vezes e foi presidente da câmara por dezessete anos. Também eleito sete vezes como Deputado Estadual (1904/1906; 1907/1909; 1910/1912; 1913/1915; 1916/1918; 1919/1921; 1922/1924). Foi suplente de Senador do Estado de são Paulo (1922) e eleito em 1925, renunciando para assumir o cargo eletivo de Deputado Federal, por são Paulo, em 1926 – legislatura 1927/1930, com perda do mandato no mês de outubro de 1930 em decorrência da vitória da Revolução de Vargas; já teria sido reeleito para o cargo. Com a vitória de Vargas, o Delegado Militar. Azor de Araujo, interventor em Piraju, mudou o nome da Praça Ataliba Leonel, para João Pessoa, mas o antigo nome voltaria posteriormente.
Como político, na Presidência da Câmara, ocupou a função de Inspetor de Instrução Pública em Piraju (Almanak Administrativo Mercantil e Industrial do Rio de Janeiro, edições de 1906: 1994 (1798) e 1908: 1636 (2981).

6. O coronelato  
Ataliba teve nomeação de 'Coronel-Comandante da 21ª Brigada de Cavalaria da Guarda Nacional', comarca de Piraju, conforme publicação em Diário Oficial da União, de 04 de abril de 1901: 1 – Ministério de Justiça e Negócios dos Interiores.
Envolveu-se no universo dos coronéis regionais unindo-os em torno de seu nome, para ser eleito Deputado Estadual em 1904, no entanto obstado em Santa Cruz do Rio Pardo, município e comarca, pelo deputado federal dr. Antonio José da Costa Junior, o irmão e genro deste, dr. Augusto José da Costa – Juiz de Direito, e o outro genro, dr. Francisco de Paula de Abreu Sodré, Presidente da Câmara Municipal e chefe político entre os anos de 1902/1907.
Assunto já tratado, em detrimento aos antagonistas santa-cruzenses Ataliba agiu junto ao 'Diretório Central do PRP' para conduzir Antonio Evangelista da Silva, o Tonico Lista, à chefia perrepista local, avançando em toda a comarca, prestigiado sobre os demais coronéis.
Alguns adversários coronéis regionais, opositores a Lista e Ataliba, foram assassinados, citados o João Pedro, em São Pedro do Turvo; Emygdio José da Piedade Filho, primo de Ataliba, tocaiado e morto; Francisco Sanches de Figueiredo, o absoluto de Campos Novos Paulista e adiante; e o Pedro Pocay, de Salto Grande. O coronel Albino Alves Garcia, de Bernardino de Campos, foi severamente espancado, e retraiu-se o Jacintho Ferreira e Sá, de Ourinhos, para ressurgir forte.
O trucidamento mais emblemático dentre os coronéis na região recaiu sobre o Piedade Filho, expressiva liderança política independente em Ipaussu, aliado dos fazendeiros locais, Cunha Bueno, Melchior, Cleophano Pitaguary - ex-deputado por Santa Cruz, e os denominados 'coronéis menores', de maneira a incomodar o prestígio político de Ataliba, além da afronta ao poder de Tonico Lista na comarca de Santa Cruz do Rio Pardo.
Em 1917, Jacintho Ferreira e Sá aliava-se aos políticos adversários de Lista, consequentemente de Ataliba, para o êxito da tramitação processual administrativo da elevação de Ourinhos à condição de município, etapa conclusa em 13 de dezembro de 1918, sem o voto de Ataliba Leonel "que não compareceu à sessão e não justificou a ausência" (Del Rios, 1992: 30-31). Ferreira e Sá vinculava-se a Fernando Foschini numa frente anti-Lista e Ataliba Leonel; aos 08 de abril de 1920, Foschini não resistiu a um segundo atentado e foi morto.
Tonico Lista, cabecilha à frente de seu bando, era o braço armado regional mais eficiente a favor do 'Comitê Central do PRP', e em troca mantinha o poder absoluto em seu feudo - Santa Cruz do Rio Pardo, município e comarca. Lista abrigava-se à sombra de Ataliba Leonel e os caciques perrepistas.
O Lista, eleito vereador nas eleições de 30 de outubro de 1919, posse em janeiro de 1920, foi o escolhido Prefeito Municipal: "Na verdade, Leonel pessoalmente nomeou o chefe local Tonico Lista como prefeito, quando ele também retirou o chefe local da polícia que apoiou o grupo de oposição" (Font, op.cit).

7. A eliminação de Tonico Lista, o coronel santa-cruzense
A vitória de Washington para o governo paulista, em 1920, se excelente para a região pirajuense pela proximidade do Ataliba Leonel com o novo eleito, para Santa Cruz nada bom, afinal, igualmente vinculado ao chefe do executivo, o juiz de direito, Francisco Cardoso Ribeiro, guindado ao posto de 'Secretário da Justiça e Segurança Pública'.
Como secretário de governo, Cardoso Ribeiro nomeou autoridades na comarca santa-cruzense com objetivo único em suprimir Tonico Lista, para isto o juiz de direito Arthur Mihich (Correio Paulistano, 28/07/1920: 5); o promotor público Ricardo Gumbleton Daunt (DOSP, 05/08/1920: 1); e o temível delegado de polícia Coriolano de Araujo Góes (Correio Paulistano, 28/07/1920: 1), com a missão em prender e condenar o coronel Lista pelos seus feitos.
O dr. Cardoso Ribeiro, até meteu-se na política santa-cruzense,  aliando-se aos outros opositores de Lista, contribuindo para a fundação do Partido Municipalista, aos 13 de março de 1921, em verdade dissidência do PRP (O Combate, 19/03/1921: 1); e, aos 14 de abril de 1921 entrava em circulação o hebdomadário 'A Ordem' como veículo de comunicação partidária municipalista, para fechar o cerco em torno oponente, restando apenas afastá-lo do protetor Ataliba Leonel, consequentemente excluindo-o do Diretório Central do PRP.
Cardoso Ribeiro não tomaria nenhuma atitude dentro da zona de influência de Ataliba Leonel, sem o consentimento deste, e qualquer operação de tal grandeza deveria, ainda, passar pela ciência do presidente da província, dr. Washington Luiz.
Lista era o inconveniente que precisava ser removido, e, de vez, consolidar o alcance político de Ataliba Leonel, sem dúvidas ofuscado pelo coronel santa-cruzense:
—"(...) Tonico Lista, na sua zona de mandonismo político, continuava a pontificar, poderoso e temível...até que, um bello dia, morreu varado pelas balas de um soldado da Força Pública. Foi, então, que as insígnias de chefe político, vagas com o desaparecimento trágico do saudoso Tonico Lista, passaram a ornar a jaqueta do sr. Ataliba Leonel" (Diário Nacional, 20/06/1930: 3, 'Uma história antiga... ', cujo autor a insinuar o Dr. Cardoso Ribeiro metido nos acontecimentos).

35.7.8. A 'Guerra dos Coronéis'
Os domínios de Lista chegavam a Palmital, governado pelos prepostos, coronéis José Machado e Candido Dias de Mello, entre si atritados após a morte de líder.
Ataliba Leonel entrou em disputa com Olavo Egydio Aranha pelo espólio político e onze oposicionistas a Ataliba ficaram gravemente feridos e sete mortos chacinados pelos jagunços do coronel Dias Mello, inclusive o adversário coronel José Machado, e um outro morreria depois, elevando para oito o número de vítimas fatais.
O episódio que ficou conhecido como a 'Guerra dos Coronéis', teve o Ataliba Leonel como causa primária e planejador dos acontecimentos de 14 de dezembro de 1922.
Os capangas de Dias Mello eram em número de quarenta. Front descreve:
—"Vários dos atacantes foram acusados e presos. Mas uma grande unidade para indiciar Ataliba Leonel foi resistida com sucesso em razão da imunidade parlamentar [posto] Leonel deputado estadual. Este evento sangrento e escandaloso era freqüentemente usado por 'O Estado de São Paulo' e outras imprensas anti-PRP uma prova da corrupção das práticas cívicas e moralidade no estado e a necessidade de reformas drásticas.
(...) o caso Palmital ajudou a ascensão [de] Ataliba Leonel à proeminência política como um líder político que afirmou poder não tanto em virtude da situação econômica ou social tradicional como pela sua posição no partido."
-(Font - Mauricio, 'A Coffee and Transformation in Sao Paulo', Brazil, 2010: 162, vertido para o português via Google Translate, com adicionais entre colchetes).
Adiantando a cronologia, em 1923 o Julio Prestes, num pronunciamento na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo, considerou tratar-se de crime comum, com vinte e duas pessoas diretamente responsabilizadas e, também Ataliba Leonel denunciado, a seu ver um absurdo jurídico (O Estado de São Paulo, 20/10/1923, Denúncia contra o deputado Ataliba Leonel, Assembleia Legislativa de São Paulo).
O processo não prosperou e, em sessão do Júri Federal realizado em São Paulo, os acusados foram absolvidos e Ataliba Leonel livre de responsabilidade. Tinha imunidade parlamentar e a proteção dos seus pares caciques perrepistas.
O caso seria reaberto em 1931, conforme publicação ALESP:
—"Ataliba Leonel, vencido e preso [Revolução de 1930], teve a sua vida submetida a completa devassa. Desenterraram uma denúncia de oito anos passados formaram um processo-crime na 1ª Procuradoria da República e foi esta a conclusão a que chegou a Justiça:"-'Considerando que, no processo em apreço, não existe o mais apagado vislumbre de prova, ou indícios do mesmo, que possam apontar o denunciado Dr. Ataliba Leonel, de qualquer modo, como sendo o ideador, o planejador, o conceptor, a causa primária ou eficiente dos delitos, que se verificaram no dia 14 de dezembro de 1922 em Palmital, deste Estado, a outra conclusão não podemos chegar, se não aquele de crer na inocência do denunciado ao invés da sua criminalidade. Confirmo a não pronúncia do denunciado Dr. Ataliba Leonel, mandando que se lhe dê baixa na culpa. São Paulo, 11 de maio de 1931. (a) Eduardo Vicente de Azevedo'-" (DOSP 21/05/1975/63).

35.7.9. Ataliba Leonel e seus 'Batalhões Patrióticos'
Ataliba Leonel foi revolucionário nato, sem dúvidas, um idealista.

35.7.9.1. A 'Revolução de 1922'
Nas eleições presidenciais de 1922, ganha por Arthur Bernardes, a hegemonia da política São Paulo/Minas Gerais foi contestada por oligárquicos de outros estados e também pelas forças armadas, representadas pelos oficiais identificados genericamente por tenentes, personagens principais do exército, ao lado dos listados na Marinha de Niterói, no Levante de Copacabana, de 05 de julho de 1922, e aqueles da 1ª Circunscrição Militar sediada em Mato Grosso - da época.
—"Houve em todo o Estado [de São Paulo] um frêmito doloroso de patriotismo duramente offendido, ficando todos promptos para a resistencia e, abnegadamente, se offereceram para a formação de batalhões patrióticos" RG, U 1180, 1923: 143-150).
O 'Relatório de 1923', do Presidente do Estado de São Paulo Dr. Washington Luiz, revela a prontidão das tropas paulistas regulares, a força pública e o exército, guarnecendo lugares estratégicos, as estradas de ferro e, principalmente, as divisas com os estados do Paraná e Mato Grosso - à época, para impedir invasões das forças federais sublevadas.
Ataliba formou, então, seu primeiro batalhão patriótico para a defesa da legalidade das eleições e dar combate à tropa matogrossense nas barrancas do Paraná, evitando entrada em solo paulista. O Governo do Estado aceitou "o offerecimento do Deputado Ataliba Leonel" (Relatório de Governo), cujo batalhão com oitenta integrantes e um médico foi se encontrar com as tropas comandadas pelo Capitão Pedro de Moraes Pinto, na região de Presidente Prudente.
Deputado Estadual, nas eleições de 1º de março de 1924 Ataliba Leonel foi eleito Senador ao Congresso Estadual São Paulo.

35.7.9.2. A 'Revolução de 1924' e Ataliba Leonel feito 'General'
A denominada 'Revolução Esquecida', sequente à do Tenentismo de 1922, teve a maior batalha já deflagrada dentro da capital paulista, e arrastou-se por todo interior adjacente às linhas férreas.
Ataliba Leonel destacou-se pelos relevantes serviços prestados ao lado dos legalistas, com concentração de tropas em Itapetininga, em 07 de julho de 1924, conforme referências às atas de formação do batalhão, do número de voluntários e dos combates travados. Uniu-se aos batalhões de Washington Luis e Fernando Prestes para a criação da Coluna Sul, vistas como "forças irregulares, compostas de jagunços e peões 'capturados a laço'-" (UMES - União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo, http://www.umes.org.br/index.php/nossas-bandeiras/37-movimento-estudantil/nossas-bandeiras/pornoimpala.info).
Ayres de Camargo, em sua obra 'Patriotas paulistas na Coluna Sul' (1925: 218), refere-se à organização, desde 07 de julho, em Itapetininga e Piraju de batalhões civis, sob ordens dos coronéis Ataliba Leonel e Fernando Prestes, com relatos de combates travados, até o mês de setembro, indo até as barrancas do Rio Paraná em perseguição aos revoltosos. A 'Coluna Sul', com Julio Prestes de Albuquerque, Ataliba Leonel e Washington Luís lutavam pela expulsão dos revoltosos presentes na região da Sorocabana.
Hoje se sabe, documentalmente, não foi tão propriamente assim e historiadores ou autores regionais confundem esta revolução com a de 1922.
Da história da Revolução de 1924, guardam-se as acusações do então deputado Arthur Caetano, que o presidente do estado, Carlos de Campos, se havia ausentado do Palácio por ser um timorato e que os batalhões patrióticos organizados em Itapetininga, sob o comando de Washington Luiz, Fernando Prestes e Ataliba Leonel, nada haviam feito senão cevarem-se nos cofres públicos (Diário do Congresso Nacional, 18/03/1982).
Nesta Revolução de 1924 Ataliba Leonel teve a sagração como 'General', ato nada oficial promovida pelo dr. Washington Luis, merecedor da mordaz crítica de Assis Chateaubriand: "Porque a verdade é que o dr. Washington Luiz dando motivo que falar de si, delle comtudo so se conhece, durante a revolução, um acto de coragem: o haver feito general o sr. Ataliba Leonel." (O Jornal, RJ, 08/08/1925: 1).
A 'cerimônia' aconteceu assim, na apresentação do 'Batalhão Ataliba Leonel', em 1924, na localidade de Itapetininga:
—"Foi então que o sr. Dr. Washington Luis, com toda a solenidade, na presença do Coronel Franco Ferreira, dos Chefes da Reação e de numerosas pessoas - colocou simbolicante no senador Ataliba Leonel, que estava fardado, umas estrelas de 'general'. Era simplesmente uma cerimônia cívica - e com mera formalidade, nas circunstâncias em que se deu, encheu de entusiasmo os legionários da Reação." (Correio Paulistano, 18/08/1924: 2).
Doravante Ataliba tornou-se conhecido como 'General' e como tal se apresentava.
Na Revolução de 1924 Ataliba reconquistou Santa Cruz do Rio Pardo ao tornar o major, depois tenente-coronel, Leônidas do Amaral Vieira seu homem de confiança, e o Largo da Matriz, antes Praça da República, tornou-se Ataliba Leonel, "pela câmara em honra do prestigioso chefe e amigo de Santa Cruz".
A praça voltaria ao antigo nome, hoje denominada Dr. Pedro Cesar Sampaio.
—Outras localidades também homenagearam o 'General', inclusive a nominação Avenida General Ataliba Leonel à antes Avenida Carandiru, em São Paulo (Câmara Municipal de São Paulo, Projeto de Lei nº 421/1952, 13/10/1952, transformado na Lei nº 4.770, de 08/07/1955).
Aos 02 de junho de 1926 Leônidas Vieira, mandatário santacruzense, assumiu o 'Comando dos Legionários', força paramilitar, do 'Batalhão Ataliba Leonel', sediado em Botucatu:
—"(...) criado para dar combate a grupos revolucionários, como de 1924. Tinha formação civil, mas com feições nitidamente militares, com rígida hierarquia, treinamentos intensivos, patentes, exclusões e premiações solenes. Cada batalhão recebe um nome, geralmente escolhido entre os políticos mais influentes, Ataliba Leonel, nesse tempo, era deputado federal influente, que geralmente cuida dos interesses de Botucatu e região." (Pupo, 2002: 84, Volume II).
—Em 1927 o mesmo Leônidas foi designado 'Comandante do Batalhão Ataliba Leonel' lotado em Santa Cruz, que funcionava como Corpo da Polícia Militar, cujos integrantes agiam de maneira ostensiva e não poupavam adversários do chefe, submetendo-os a constrangimentos (Nota dos autores).
Ataliba Leonel renunciou ao cargo de senador estadual em 1926, para candidatar-se e ser elegido deputado federal, legislatura 1927/1930, a pedido do amigo Washington Luiz, eleito Presidente do Brasil.
—"A posse dos eleitos seria no dia 15 de novembro e Washington Luís organizava seu ministério. Como era de sua índole, desprezava as sugestões de seus correligionários, com sua altivez e sua autoridade de presidente. Privavam de sua companhia poucos amigos, entre eles Ataliba Leonel, companheiro da resistência na Coluna Sul, e Júlio Prestes. Gilberto Amado contou ter sido encarregado de levar algumas sugestões, sem sucesso. Na noite definitiva, só Ataliba e Júlio entraram no quarto do Palace Hotel do Rio onde estava o presidente" (Novo Milênio - Santos, 'Prestes em Santos: o presidente que não foi - C').
Não sem razão e por tudo o que representava, Ataliba Leonel tornou-se nome forte, "homem dos sete instrumentos que o sr. Washington Luis arranjou, o sr. Ataliba Leonel, 'cabo de guerra', capaz de fazer tudo que for preciso para defender o prestigio do partido ..." (Correio da Manhã, 15/09/1928: 4), e seu filho Jayme, neste tempo, já se iniciava na política, conquistando vaga na Assembleia Legislativa de São Paulo, legislatura de 1928/1930.

35.7.9.3. A 'Revolução de 1930'
O presidente Washington Luís, ao contrário do acordado, não indicou o mineiro Antonio Carlos Ribeiro de Andrade como o seu sucessor, e o preterido articulou, então, candidatura de oposição, com apoio do Rio Grande do Sul e outros estados, combinando o gaúcho Getúlio Dorneles Vargas para Presidente e o paraibano João Pessoa para vice, na denominada Aliança Liberal, com discurso empolgante de se reinstituir o voto secreto, anistia política, regulamentações trabalhistas, e outras promessas assistencialistas.
Julio Prestes, com 1.091.709 votos ganhou as eleições, enquanto Getúlio obteve 742.794, a despeito de quase 100% dos votos gaúchos a seu favor, contudo sob suspeições de fraudes e o não reconhecimento oficial dos deputados eleitos, onde a Aliança Liberal vitoriosa, criou-se o impasse com início conspiratório a partir de Minas Gerais e Rio Grande do Sul.
Para alguns estudiosos o estopim da revolução armada teria sido o assassinato de João Pessoa, em 26 de julho de 1930, por João Dantas e o cúmplice Moreira Caldas, correndo versão de crime político.
—O crime foi de ordem particular [passional], e as degolações dos assassinos, na cadeia, ocorreram por oportunismo político.
Naquilo que interessa para a região da Média Sorocabana, a Revolução de 1930 ainda merece melhores estudos, no entanto sabe-se que Santa Cruz do Rio Pardo, mobilizada, sediou tropas do 'Batalhão de Resistência Ataliba Leonel':
—"O Comandante [Leônidas do Amaral Vieira] vae recebendo legiões de voluntários que se apresentam de todos os lugares e da mesma forma, depois de alguns dias de instruções seguem companhias para diversos pontos. Todos os soldados saem perfeitamente equipados, municiados e dispostos a luta na certeza de uma vitória brilhante" (A Cidade, 19/10/1930: 1-2).
Confirma Trajano Pupo a participação de Botucatu:
—"Mais de cem voluntários de Botucatu se incorporam ao Batalhão de Legionários de Santa Cruz do Rio Pardo, sob comando do coronel Leônidas Vieira, contra as forças revolucionárias. (...). A prefeitura requisita caminhões, logo enviados para Piraju, ajudando no transporte de tropas e rancho das forças legalistas" (1918-1948: 134).
Ao todo foram 30 mil voluntários, destacado o número de 'soldados' que cada cidade enviou para as sedes onde os batalhões (Correio Paulistano, 16/10/1930: 1, 4 e 6). Tito era o codinome de Ataliba Leonel (Santana - Wesley Espinosa, O governo de Accacio no exilio de Heitor, USP, Dissertação Mestrado, 2009: 30 e 60; http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-19022010-170350/pt-br.php).
—O 'Batalhão Ataliba Leonel', desta feita, era constituído de voluntários e militares da reserva, aliados aos soldados da Força Pública do Estado de São Paulo e aos militares do Exército que permaneceram fiéis ao Governo Federal.
Alguns documentos e informes inéditos da Revolução de 1930 resgatados por SatoPrado:
-Os soldados sediados em Santa Cruz partiram em socorro à tropa paulista regular, derrotada pelos revoltosos nos confrontos de 12 e 13 de outubro, em Quatiguá, região paranaense. A tropa paulista então recuou para as divisas com São Paulo onde certo o socorro dos batalhões voluntários com suas tropas.
-Dissipando preocupações dos regionais e dos combatentes, o Deputado Leônidas do Amaral Vieira procurou tranquilizar as famílias que as tropas inimigas não ultrapassariam o Paranapanema e não entrariam em território regional paulista: "Aqui no Paranapanema o inimigo não passa, eu vol-o afirmo com a certeza de quem conhece e acompanha de perto o movimento em conjunto das forças que lhe dão combate" (A Cidade, 19/10/1930: 2).
-Os legalistas do Batalhão Ataliba Leonel, destruíram ou danificaram pontes, pontilhões, trilhos da estrada férrea, incendiaram vagões e veículos para conter o avanço dos revoltosos. Também dinamitaram a ponte pênsil rodoviária de ligação entre Chavantes e Ribeirão Claro, e queimaram balsas, barcos e canoas que serviam para a transposição do Paranapanema, e assim, impedindo a entrada inimiga no estado paulista, atraindo os insurretos para os lados de Carlópolis (PR) e Itararé (SP).
-A ação mostrou-se eficaz. Por telegrama de 17/10/1930 a Secretaria do Interior comunicava ao Prefeito de Santa Cruz do Rio Pardo os resultados em Itararé:
—"Nossa força se bateu com grande galhardia e continua em perseguição da coluna derrotada que foge desmoralizada. Nossa aviação militar agiu brilhantemente destroçando organizações inimigas, destruindo trens de reforços e pondo em debandada forças que nos hostilizavam.
(...).
De Mococa informa terem nossas forças tomado Guaranésia e Guaxupé apreendendo vários trens e copiosa munição, tendo feito muitos presos" (A Cidade, 19/10/1930: 2).
—Para o Exército não aconteceu a 'Batalha de Itararé' nem os outros combates onde não vitorioso.
A eficiente reação ou presunção paulista frustrou-se com a deposição e prisão de Washington Luiz, num golpe de estado promovido pelos generais e almirantes, sob a argumentação de se evitar maior derramamento de sangue.
Os paulistas, juntamente com os legalistas de primeira ordem, perderam a Revolução de 1930, e Julio Prestes não tomou posse, enquanto Getúlio Vargas assumia o governo provisório (1930/1934).
Ataliba Leonel, Deputado Federal, perdeu o mandato no mês de outubro de 1930 quando se consumou a vitória do movimento armado contra o governo do Dr. Washington Luis Pereira de Souza.
Leônidas do Amaral Vieira, Pedro Camarinha, Leônidas Camarinha e outros santacruzenses, entre as centenas de paulistas, foram presos em causa da Revolução de 1930 (Correio Paulistano, edição de 08/10/1934: 1).
Ataliba, na prisão, vestia fardamento de general e exigia tratamentos conferidos aos detentores de tal patente, mas, em verdade, a chegada de Getúlio ao poder colocou fim às aspirações de Ataliba Leonel, o ícone da Revolução Paulista de 1930.
Com o fracasso de 1930, Ataliba foi enquadrado às novas regras políticas para ressurgir forte na 'Revolução Constitucionalista de 1932'.

35.7.9.4. A 'Revolução de 1932'
No ano de 1932 os paulistas se manifestavam insatisfeitos com o Governo Vargas, exigindo uma nova Constituição, convocação de eleições. A elite paulista, derrotada na Revolução de 1930, contando com as participações de estudantes universitários, comerciários e profissionais liberais, encabeçava forte oposição a Vargas.
Ataliba foi um dos preparadores do movimento de 23 de maio, quando a indisposição paulista então consagrada num grande manifesto político no qual se propôs a reconstitucionalização do país e a autonomia dos estados. Após o encontro ocorreram violentos conflitos desorganizados na Capital, sendo assassinados por grupo tenentista os estudantes 'Martins, Miragaia, Drauzio e Camargo', cujas iniciais geradoras da sigla 'MMDC' viria ser o símbolo da revolta paulista em andamento.
Numa reunião realizada no dia 7 de julho, com a presença de Francisco Morato, general Ataliba Leonel, Sílvio de Campos, coronel Júlio Marcondes Salgado e general Isidoro Dias Lopes, ficou decidido que o levante aconteceria no dia 20, sob o comando de Isidoro e do coronel Euclides Figueiredo.
Pedro de Toledo ainda tentou evitar a revolta, mandando seu genro ao Rio de Janeiro, no dia 8, para conferenciar com Vargas. Todavia, em nova reunião, nesse dia, resolveu-se deflagrar o movimento no dia 09, antes que chegasse a S. Paulo o gal. Pereira de Vasconcellos, para assumir o comando da 2ª Região Militar.
Iniciada a Revolução aos 9 de julho, Ataliba Leonel organizou a Brigada do Sul, da qual foi comandante-geral. A revolta constitucionalista estava nas ruas. O movimento eclodiu às 11,40 horas, sob o comando de Euclides Figueiredo, com a tomada do Q.G. da 2ª Região Militar. No mesmo dia, às 23,15 horas, as sociedades de rádio eram tomadas por civis, a tratar-se de insurreição contrária ao quadro político instaurado no país após a Revolução de 1930.
Reconheceu-a o general Bertoldo Klinger, comandante em chefe das forças constitucionalistas:
—"É criada a Brigada do Sul, sob o comando do general Ataliba Leonel, brigada esta composta de 4 batalhões de infantaria, cujas sédes serão: uma em Botucatú, uma em Itpetininga, uma em Baurú, e uma em Itú. O Batalhão de Botucatú, sob o comando civil do tenente-coronel Leonidas do Amaral Vieira e sob o comando militar do major Manoel Marques; o de Itapetininga, sob o comando civil do tenente-coronel Joaquim Ferreira Lobo Nenê Sobrinho e sob o comando militar do major Augusto Pereira Junior; o de Baurú, sob o comando civil do tenente-coronel Eduardo Vergueiro de Lorena e sob o comando militar do major José Dias, e o de Itú, sob o comando civil do tenente-coronel Silvio de Almeida Sampaio e sob o comando militar do major José Garrido." (Correio de S. Paulo, 28/07/1932: 4).
—No 'Memória Paulista', referência a Itu, consta "Terceiro Batalhão de Caçadores Voluntários de 1932 - Fundo (Documentos do ano de 1932. Quantidade: 7 cadernos, 7 livros e 2.162 documentos de atividades inerentes à administração, serviços de saúde, transporte e comando de tropas. O Batalhão foi criado no mesmo ano, e era formado por soldados voluntários da região de Itu e sob o comando de Ataliba Leonel)."
Com a vitória da ditadura, Getúlio foi extremamente implacável com os líderes da Revolução, presos e exilados. Assim que detidos, todos foram aprisionados no navio-presídio 'Pedro 1º' e transferidos, em seguida, para o navio 'Siqueira Campos' que, em 18 de novembro de 1932, chegava a Portugal com todos os exilados, às exceções de Borges de Medeiros, ex-governador do Rio Grande do Sul, e de Ataliba Leonel, "que se achava adoentado. Embora listado para o exílio, acabou sendo riscado e ficou no Rio de Janeiro."
http://www.pitoresco.com/historia/republ205.htm Paulo Victorino: A Revolução Constitucionalista - o fim do poder discricionário).
—Derrotado, Ataliba foi preso, exilado e depois anistiado.
O jornal Correio de São Paulo, edição de 05/11/1932: 1, deu nota que Ataliba Leonel, recolhido no Sanatório de Rio Cumprido, "vem obtendo sensíveis melhoras em sua saúde. Nestas condições foram preenchidas hoje todas as formalidades regulamentares da policia, para que aquele chefe revolucionário possa embarcar depois de amanhã, domingo, para a Europa. O sr. Ataliba Leonel vai fixar residencia em Lisboa".
Ataliba Leonel exigiu distinção de general na prisão e para o exílio, contando com apoio da imprensa, obrigando a manifestação do Ministério da Guerra - Gabinete:
—"O Tratamento que deve ser.
Rio, 4 - O gabinete do ministro da Guerra dirigiu a um matutino a seguinte carta:
O Ministério da Guerra volta a tratar do assunto das honras de general do sr. Ataliba Leonel, no interesse de deixar bem claro no seu intuito, enviando a essa redação uma contestação á notícia inserta nas colunas do seu jornal a tal respeito.
Não foi o desejo de contestar que estejam sendo tributadas honrarias a esse senhor que motivou esta contestação, e sim a necessidade de proclamar a inverdade da versão corrente, de que esse senhor seja mesmo general de Exército.
É possível tenha qualquer governo anterior á revolução de 1930 tido a idéa de galardoar os serviços, os muitos e até mesmo o pendor militar desse ardoroso político e reacionário, concedendo-lhe as honras de general e que a vocação para tamanha investidura o animasse a mandar confeccionar o uniforme com que, ás vezes, se apresenta na Casa de Detenção, para achincalhar a classe militar, mas a idéa não chegou a se transformar em fato e o uso desse fardamento não significa mais que um abuso, uma manifestação de desrespeito ás leis, pois nenhum áto oficial foi praticado que lhe desse direito a usar essas vestes.
Pela Secretaria da Guerra, unico departamento que extráe patentes dos oficiais efetivo ou honrarias, nunca foi lavrado ou extraído um título com esse nome.
O sr. Ataliba Leonel não é general. É só o que o gabinete quer que fique bem sabido."
-(Correio de São Paulo, 05/11/1932: 1).
—Os generais honoríficos oficiais tinham regalias iguais às concedidas para os efetivos ou de carreira.
Ataliba embarcou para o exílio, com sua mulher, e após curto tempo em Lisboa transferiu-se para [São João do] Estoril, casa de um português outrora residente no município de Piraju. Saúde abalada e a morte do filho Jarbas, em 1933, Ataliba resolveu retornar ao Brasil independente de qualquer ordem, mas durante a viagem obteve autorização de Vargas, por questões humanitárias. Concedeu entrevista assim que pisou em solo brasileiro, e sobre o período que permaneceu em Portugal declarou:
—"(...) não era lá muito bom...disse...os exilados deixei-os todos bons. Mas a saudade da Pátria distante vai minando todo mundo...(...). Alguém neste ponto pergunta sobre a saúde;
No inverno sofri um pouquinho, mas depois, mudando de residência, melhorei. Até curei a minha asma. Ha males que vêm para o bem. A doença não seria nada, se não fosse a lembrança dos d’aqui..." (Correio de S. Paulo, 16/05/1933: 9).
Os seis meses no exílio foram suficientes para sua destituição do comando perrepista estadual, e na cisão, entre os partidários e velhos adversários de Ataliba e Altino Arantes, prevaleceu a corrente encabeçada por Oscar Rodrigues Alves, e por Antônio Castilho de Alcântara Machado d'Oliveira.
Ataliba pretendeu recomeçar a carreira política em Piraju, porém derrotado nas eleições de 1934 para a Assembleia Constituinte, e quinze dias depois, aos 29/10/1934, morreu em Piraju, vítima de ataque de uremia e derrame cerebral.
—"Faleceu o Ir.'. General Ataliba Leonel, ícone da Revolução, foi o primeiro Venerável da Loja Cavalheiros do Sul (1901), tendo vivido por muito tempo em Piraju, onde deixando vários descendentes. O tumulo onde foi sepultado no cemitério da cidade, é uma obra de arte, tombado pelo patrimônio histórico Pirajuense." (Sérgio Rimôn, Fatos Maçônicos ocorridos em 29 de outubro).
Ataliba foi antes de tudo um homem inteligente que soube, ao longo dos anos de vida pública, excluir de seu currículo todos os cometimentos negativos e de violências que cometera, na qualidade de coronel, e que lhe pudessem manchar a honra, para se tornar grande vulto na história paulista.