domingo, 20 de dezembro de 2009

- Maneco Dionísio - o maestro político de Avaré

1. Uma vida dedicada inteiramente à cidade que escolheu para viver
O Alferes Manoel Marcellino de Souza Franco, conhecido por Maneco Dionísio foi "um dos primeiros professores que ensinaram o 'a-bê-cê' em Avaré" (Avaré, História e Geografia, 1935: 4) além de ter sido  a maior expressão política, intelectual e religiosa no Sertão Paranapanema do século XIX e princípios dos anos de 1900, sem truculência alguma ou o uso da força pelas armas, sem as proteções compradas e sem os comprometimentos escusos tão vezeiros nos tempos dos coronéis.
A maior referência sobre o Maneco Dionísio encontra-se na obra do jornalista pesquisador Gesiel Junior (Outubro de 2001 - 1ª edição e a 2ª em 2010), e é nela que se assentam o respeito ao mineiro paladino rio-novense/avareense, que assim o foi por escolha pessoal e aceitação popular.
Maneco Dionísio, filho legítimo do Alferes Dionizio José Franco e Gertrudes Maria da Assumpção, nascido aos 02 de junho de 1851, na  antiga povoação Nossa Senhora das Dores de Tatuí, atual cidade de Limeira, Estado de São Paulo, considerado o mais importante líder político do Rio Novo e da formação de Avaré. 
Sua família chegou a Rio Novo, depois Avaré, em 20 de novembro de 1864, para alguns a convite do pioneiro Major Vitoriano de Souza Rocha, quando a localidade urbana não possuia mais que uma dezena de casas toscas, e duas ou três lojas de comércio: ferragem, armarinho e gêneros de primeiras necessidades.
A mãe lhe ensinou cedo a escrever e fazer os primeiros cálculos, e Maneco, precoce, resolveu compartilhar seus conhecimentos com outras pessoas. Tinha o costume de registrar os principais acontecimentos na vila: chegada, partidas, falecimentos, festas, contos, disputas inclusive por terras, a presença escrava, os índios e as procedências dos principais habitantes, assim a tornar fácil conhecer a Avaré daqueles tempos.
Aos dezessete anos, em 26 de setembro de 1868, Maneco assumiu as funções de escrevente ou registrador da Subdelegacia do Rio Novo, função na qual permaneceu até 16 de julho de 1874, quando assumiu o cargo de escrivão do Juízo de Paz, para depois assumir a Secretaria da 1ª Câmara Municipal. 
Dinâmico, em 31 de janeiro de 1877 foi convidado para exercer interinamente a atividade de Escrevente do Termo Unido - jurídico da localidade, até a implantação da Comarca local de 1ª Entrância, aos 03 de janeiro de 1890.
Membro da Guarda Nacional, em 1888 fundou o jornal O Rio-Novense, em cujas páginas ele advogou a mudança do traçado da estrada de ferro, projetado para passar longe do Rio Novo, convencendo as autoridades provinciais a mudarem o projeto e dar a Avaré a sua estação ferroviária, em 1896, como conquista decisiva para o desenvolvimento local.
O Jornal Rio-Novense foi o segundo a ser instalado em Rio Novo (Avaré), fundado em 1888, precedido pelo O Autonomista, fundado em setembro de 1885 (Thomaz de Almeida, 1983: 37).
Polêmico e inteligente, Maneco, católico e monarquista, tinha sua ocupação mais discutida a de Provedor da Irmandade de Nossa Senhora das Dores, quando ostensivamente contestava o regime republicano instalado no Brasil, especialmente no tocante às leis não revogadas especificamente.
Maneco mantinha bons relacionamentos políticos com seu amigo, Prudente de Moraes, com o qual veio fundar o importante Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. 
O relacionamento com Moraes, quando Presidente de São Paulo em 1889 e do Brasil, em 1894, justificou o êxito de Maneco em fazer passar por Avaré a desejada estrada de ferro. Essa conquista férrea certamente prejudicou Santa Cruz do Rio Pardo, mudando o percurso que seria pela direita do Pardo a partir de Botucatu.
Intelectual, Maneco fundou o Clube de Leitura de Avaré, publicou trabalhos sobre as origens de Avaré e de Itaí, editou estudos / pesquisas que apontavam a existência de carvão de pedra no subsolo do município, e outros temas discutíveis e avançados para a época.
Muito religioso promoveu a primeira conferencia vicentina de Avaré, o que lhe possibilitou três anos depois audiência particular com o Papa Leão XIII, em 1900.
Pela sua competência em dirigir a Irmandade Nossa Senhora das Dores, foi escolhido, em 1904, Diretor do Banco de Custeio Rural de Avaré.
Viúvo e com a saúde debilitada afastou-se do meio político e social, vindo falecer aos 23 de maio de 1930, vitima de demência, possivelmente 'Mal de Alzheimer', que fê-lo perder a memória inclusive da sua própria personalidade.

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