Mas, o capitão Tito tinha sua própria versão, em 1889, que posseiros teriam encontrado um padre [frade, monge ou missionário] - 'Abaré', ao qual associado o acidente geográfico (Opúsculo (...), op.cit, 1939: 5).
Manoel Marcelino de Souza Franco, o 'Maneco Dionísio' aprofundou pesquisas:
Até 1939 tal figura num morro, a lembrar uma pessoa, jamais foi encontrada, segundo o 'Opúsculo: Avaré (...)', a despeito das tantas procuras, a exemplos, pelo destacado político Washington Luiz, junto com o líder pirajuense Ataliba Leonel, e o engenheiro geógrafo Antonio Costacurta, numa aventura em 1921. Depois, em 1926, o professor [Francisco] Assis Cintra e o engenheiro José Buonofati de Toledo, mais detalhadamente, também em vão, procuraram tal aspecto nalgum morro regional.
Mas, ao 'Ybituabare' vincula-se o 'Abarei', local à beira do rio onde assentadas as tribos Caiouá [Caiuá] e Botocudo, aniquiladas no princípio da conquista sertaneja (1850/1851), segundo as tradições, pelo bando do cabecilha e bugreiro José Theodoro de Souza.
Os autores ousam o 'Abarei' oriundo do tupi 'Abare-y': sendo 'Aba' = homem; 'Re' = diferente; e 'Y' = rio, com a livre tradução 'Rio do Homem Diferente - 'Rio do Padre'.
No entanto, se o fonema de 'Ybituabare' for 'Ybi-tuba-re', o 'Ybi' significa 'terra [lugar] onde se pisa', o 'Tuba' - 'pai', e 'Re' - 'diferente', a tradução seria 'Lugar [o monte] em que pisou o pai diferente', com a obviedade onde encontrado ou visto 'um homem diferente'.
O historiador e escritor regional avareense, contemporâneo, Gesiel Theodoro da Silva Júnior, liberto das lendas, mostrou-se elucidativo: "O nome Avaré é o mesmo dado a um monte no campo, isolado, que fica na Fazenda Avaré, antiga Fazenda Velha, que pertenceu ao coronel Eduardo Lopes de Oliveira, chefe do Partido Republicano na antiga Vila do Rio Novo.", e evoca o historiador Jango Pires:

Nenhum documento oficial comprova a presença de Tito Correa de Mello em Botucatu ou região, em tempo anterior a 1863; por conseguinte, não participou da conquista sertaneja de 1850/1851, não foi o seu idealizador, nem o bandeirante José Theodoro de Souza chegou a Botucatu a seu convite, ou chamado, para combater índios e povoar o sertão.
A despeito disto, sem dúvidas é o Tito quem informa o início sertanejo, arvorando-se como o responsável da empreitada, quase quatro décadas depois, em 1889, a partir de Avaré, informando da integração do major Victoriano de Souza Rocha ao bando bugreiro que conquistou a região de Rio Novo, depois Avaré:
"O Major Vitoriano [de Souza Rocha], a que me prendiam laços de parentes por lado de minha mãe, em 1840 viera comigo de Pouso Alegre e ficara em Sorocaba negociando em tropas, do qual era entendido, pois fora mais conhecido tropeiro, desde a cidade de Campanha até o Ouro Fino. Annos depois, passando por Sorocaba o meu compadre José Theodoro de Souza, que vinha a Botucatu a meu chamado, e conhecendo a finalidade da viagem do conterraneo, o Major Victoriano incorporou-se ao grupo de pousoalegrenses que vinham povoar o sertão do Paranapanema." (Avaré, 1939: 6).
Para o capitão Tito, apenas uma excursão:
A história para a atual Avaré, oficializada, teve início quando lá apossaram terras os pioneiros, major Victoriano [Vitoriano] de Souza Rocha e o alferes José Domiciano Santana, a partir de 1850, depois contando as vindas de interessados como José Antônio do Amaral, Generoso Teixeira, Antônio Bento Alves, Jacinto Gomes de Morais, Dionísio José Franco, Francelino de Mello e João Antônio de Souza. Segundo Tito:"De volta de sua excursão nas terras dos índios Caiuá e Botocudos, José Teodoro de Souza, que chefiava o bando de 'posseiros' consultou-me se devia conservar o nome dado pelos selvagens aos rios e morros encontrados, bem como aos campos, ao que retorqui ser melhor dar-lhes nomes novos, de acordo com a nossa linguagem. E então ficou combinado o registro das posses efetuadas." (Opúsculo: Avaré, História e Geografia, 1939: 3, transcrição de 1889).
"Foi ele [o Victoriano], com o auxílio de outros posseiros, quem, em 1861, ergueu uma capela com o nome de Nossa Senhora das Dores do Rio Novo. Em 1862, o Major Vitoriano e seu vizinho o compadre Domiciano Santana vieram a Botucatu e me procuraram para levá-los à casa do tabelião Francisco Antônio de Castro. Aí redigi a escritura de doação que ambos faziam, na parte em que seus sítios dividiam, cortados por um riacho ou córrego, de um terreno de quarto de légua (ou 27 hectares) para o patrimônio de Nossa Senhora das Dores. Essa escritura foi lavrada em 15 de maio de 1862. Nesse tempo já havia um cruzeiro em frente da capela e oito casinhas de pau a pique, cobertas de sapé. Foi esse o princípio da vila de Nossa Senhora das Dores do Rio Novo, cuja capela foi inaugurada em 10 de julho de 1861, dizendo a primeira missa que ali se realizou com a licença do Sr. Bispo, o vigário de Botucatu Padre Joaquim Gonçalves Pacheco" (Opúsculo (...), op.cit, pgs 6).
"A denominação de 'Rio Novo' dada à nascente povoação, foi por ficar mais próxima do rio desse nome, bastante conhecido, o qual nasce na proximidade de Avaré e que na opinião de pessoas competentes, não é cordilheira aquela, mas serra distinta. E a origem daquele nome, dado ao rio, segundo tradição, foi por terem os antigos posseiros, quando o atravessaram no verão, em conquista da nova Canaan sonhada, nos ínvios sertões da margem direita do Paranapanema, encontrado reduzido a pequeno regato, quase seco, sem corrente, fenômeno hidrográfico conhecido em certas regiões mais ignorado pelos intrépidos e ingênuos posseiros, que, decorridos alguns meses, em seu regresso, pelo que, estupefatos, exclamaram: 'Rio Novo' e o denominaram assim, como faziam os lugares por onde passavam, aproveitando o mais simples acontecimento ou mais superficial observação para a escolha do nome pelo qual devia ser conhecido o local" (Avaré, op.cit: 4-5, texto de Manoel Marcelino de Souza Franco, apresentado no 1º Congresso Brasileiro de Geografia, de 07 a 16 de setembro de 1909, publicação O Paiz, de 07/09/1909: 2-3).
2.2. O massacre no Abare-y contra os indígenas*Pelas datas aproximadas das 'guerras aos indígenas e ocupações dos territórios', conclui-se, até pela ausência de documentos, impossível Theodoro ter participado, diretamente, em 1850/1851, nas exterminações Botocudo e Caiuá no Rio Novo, atual Avaré.
O massacre deu-se a partir de Avaré onde expulsos ou exterminados os Caiuá e Botocudo, numa guerra sangrenta:
Das razias e dadas acometidas contra os indígenas, oficialmente ninguém ignorava os horrores praticados:
Mas, não há de se falar em conquista territorial sem a presunção da resistência indígena. O memorialista Dantas confirma que "Houve lutas ferozes dos índios contra os exploradores e colonizadores, (...) e com violentos massacres e represálias recíprocas" (1960: 40).
Marins descreveu certo ataque indígena e a reação branca, num relato muito próximo às atrocidades dos conquistadores relatadas em documentos oficiais (AESP, op.cit), podendo ser fatos distintos ou oriundos de uma mesma fonte:
A lenda se espalhou fundamentada numa inverdade do célebre capitão, que não estava presente em Botucatu por ocasião dos fatos, não foi o responsável pelo bandeirismo sertanejo, nem direta nem indiretamente; apenas se colocou centro das atenções num tempo quando todos os partícipes já falecidos ou decrépitos.
Nenhum documento oficial, porém, atesta a presença de José Theodoro de Souza em Avaré, no entanto não se pode negar a presença de bugreiros, dos quais alguns parentes seus, vistos entre alguns dos registradores paroquias de terras na região, como partícipes diretos ou financiados nos massacres contra indígenas, cujo objetivo geral, nas palavras do Nogueira Cobra "tornarem-se realmente senhores da área que o registro lhes attribuiu, consentissem ou não os donos primitivos" (Nogueira Cobra, 1923: 48), pelo mesmo autor numa "encarniçada a lucta e só teve fim depois que os selvagens foram completamente exterminados".
José Theodoro de Souza não participou do massacre em Avaré, e não há documento algum que o coloque naquele região, mas este sim representado por seus companheiros.
No Abare-y a presença dos bugreiros foi traumática aos indígenas. La estiveram eles, comprovadamente, em nome próprio, da família ou de financiadores, vistos e anotados como os primeiros registradores paroquiais de terras, ou, entre si negociadores até aos verdadeiros nomes da história avareense, muitos até financiadores de homens envolvidos no massacres.
O que dizer de Antonio Theodoro de Souza, irmão de José Theodoro de Souza, afamado em todo o Sertão como cruel matador de indígenas, temido entre os próprios bugreiros? Antonio Theodoro foi citado primitivo posseiro de terras em Avaré – Rio Novo, conforme os Registro Paroquial de Terras nº 543.
Bastante conhecido bugreiro, pelas tradições, Francisco Antonio da Rocha Melchior, surge posseiro, juntamente com seus homens a quem os chama 'meus camaradas', apossou terras no 'Salto do Rio Novo', de acordo com Registro Paroquial de Terras nº 21.
No Registro Paroquial de Terras nº 64, constam Bernardo Tavares da Cunha e Antonio Luis Duarte, posseiros no 'Rio Novo', sendo o tal Bernardo parente de José Theodoro de Souza e da mulher deste, dona Francisca, confrontante de terras com Antonio Theodoro de Souza.
E são muitos outros, registradores de terras na região avareense ou rio-novense, envolvidos nas atrocidades contra os povos originários, levados à exterminação física e cultural, tipo 'terra arrasada', ou, antigo adágio sertanejo, como a justificar matanças de povos originários, 'terra empapada de sangue é sempre terra mais fértil'.
3. Dos Registros Paroquiais de Terras
Nos Registros Paroquiais de Terras para a Vila de Botucatu, constam assentos para a região então denominada Rio Novo:
3.1. José Mathias Bueno
"Terras que possue Lourenço Dias Portella em Sociedade com outros, nesta Villa de Botucatu. Eu abaixo assignado sou Senhor e possuidor das terras seguintes, nesta Villa de Botucatu. Um Citio de terras lavradias no lugar denominado = Rio-Novo, e suas divisas são as seguintes = Principiando seus lemites no Salto que faz agua no Murrinho de cima, e deste buscando o cume do mesmo fazendo lemites com terrenos que forão do finado Godoes, Donna Barbara Fé do Nascimento, Manoel da Costa, Joaquim Carvalho de Bastos, pela mesma serra fazendo lemites com o José Bueno, com toda atenção vendo-se um mero espigão que d'esse buscando o Rio-Novo, onde se acha uma vcruz em um pau, e deste ponto atraveçando o Rio fazendo lemites com Francisco de Assis até onde finda o Rio-Novo pelas escripturas que obteve do finado José Gomes. Estas terras forão havidas por posse no anno de mil oitocentos e quarenta e um. Botucatu vinte e oito de Dezembro de mil oito centos e cincoenta e cinco = Lourenço Dias Portella = Aprezentado aos vinte oito de Dezembro de mil oito centos e cincoente e cinco = O Vigario Modesto Marques Teixeira - a)" (AESP, RTP/BTCT nº 65, volume 123, CD: A/A).
"(...) a qual divide com Francisco Lopes de Oliveira pelo Rio dos Veados e por outro lado com Lourenço Dias Portella, e Bernardo Tavares da Cunha pelo baixadão do alto da Serra, e mais adiante pelo mesmo baixadão divide com Manoel da Costa Lima, e por outro lado com Rafael José Garcia e por outro lado com João Felicio Ribeiro, e pelo pendente da Serra, e por outro lado com Salvador de Oliveira Aires, por um espigão e por outro lado com Joaquim Carvalho de Bastos por um chapadão de serrado, e pelo corrigo do Cristal, e por outro lado com José Pereira de Souza, e Francisco Pereira de Souza pelo meio do espigão mais adiante por outro lado com Salvador de Oliveira Aires, por corrigos até os Veados onde teve principio. (...)." (AESP, RPT/BTCT nº 233: 87-a/v).
Barbara Fé aparece em outras citações nos registros paroquiais de terras (AESP, RPT/BTCT, Livro 123).
3.6. Outros nomes
Para a região de Avaré outros nomes surgem nos registros paroquiais de terras, como registrantes, divisos ou vendedores (AESP, RPT/BTCT, Livro 123).
4. A formação político-administrativa do lugar
4.1. A 'Capela do Major'
Aos 15 de maio de 1862 os fazendeiros Victoriano e Domiciano oficializaram doação de um quarto de légua em quadro de terras, representando 27 hectares, para o patrimônio de Nossa Senhora das Dores do Rio Novo, fazendo-se o rossio e oficialização do lugar como Capela, ou seja, povoação reconhecida pela Igreja e o poder civil, com território delimitado e direitos para erigir lugar religioso oficial, além do cemitério benzido.
4.2. Distrito Policial [subdelegacia] da Capela Rio Novo
No dia 10 de janeiro de 1867, Ato Oficial do Presidente da Província de São Paulo efetivou a criação do Distrito de Subdelegacia de Rio Novo:"Resolução - O presidente da província de conformidade com a proposta do dr. Chefe de policia constante do seu officio de 18 de dezembro ultimo [1866] sob nº 4643, resolve nomear para o cargo de subdelegado de policia da Capella do Rio Novo, do termo de Botucatú, ao tenente João Dias Baptista, e para suplentes do mesmo, 1º a João José de Goes, 2º a Firmino Pereira de Araujo e 3º a Joaquim de Godoy Bueno." (Correio Paulistano, 17/01/1867: 1).
O distrito divisava com os territórios de São Sebastião do Tijuco Preto, São Humberto [atual São Berto], Santa Barbara do Rio Pardo - [Águas de Santa Bárbara], Lençóes - [Lençóis Paulista], e Botucatu.
Rio Novo tornou-se freguesia pela Lei Provincial nº 63, de 07/04/1870, ratificada pela Igreja como paróquia, aos 09/08/1870, cujas extensões e divisas estabelecidas pelo poder civil.
Desde sua condição de freguesia, Rio Novo tornou-se alvo de disputa política entre conservadores e liberais, sendo os conservadores liderados pelo tenente-cirurgião da Guarda Nacional, José Pereira de Souza Paixão, e os liberais locais, sob comando do capitão Tito Corrêa de Mello, já líder botucatuense e regional.
Com aspirações do Rio Novo à condição de vila, em 1873, intensificou-se a disputa pelo mando local entre as partes, sendo o Tito e o Souza Paixão não apenas adversários políticos, mas, também, sérios desafetos em questões de terras, e disputantes de influências junto às autoridades de governo.
Tito, sobejamente conhecido na história, tinha em Souza Paixão adversário à altura: fazendeiro, suplente de delegado nomeado em 1868 (O Ypiranga, 23/10/1868: 2), eleitor respeitável em Botucatu pela sua região (Correio Paulistano, 21/02/1869: 2); e tenente-cirurgião do 37.º Batalhão de Infantaria do Comando da Guarda Nacional de Botucatu (Correio Paulistano, 02/07/1871: 1).
Em 1873 Souza Paixão conseguira nomeação de José Pinto Andrade Melo, o 'Zeca Pinto', como subdelegado de polícia para Rio Novo.
Tito, derrotado, buscou pronta reação com pesadas críticas contra os adversários, citando nomes, juntando testemunhos e fazendo publicar Ofício por ele encaminhado ao Presidente da Província, solicitando providências na região rio-novense, justificando que o subdelegado Zeca Pinto não prendia assassinos, apenas a cuidar em promover terror aos liberais e cidadãos de bem, mancomunado com o destacamento policial da capital, enviado pelo governo da província, para pacificar a região (Correio Paulistano (17/09/1873: 2). Zeca Pinto, destemido, reagiu:
"É sabido que este municipio [Botucatu] é o seio dos criminosos do Imperio, que nas fazendas dos chefes liberaes as freguesias do Rio Novo, S. Domingos e da villa de Botucatú encontram asylo e agasalho, sendo o seu desfaçamento e ousadia tal, que publicamente na companhia de seus patronos passeiam tranquillamente, afrontando a moralidade. (...). Felizmente s.exc. o sr. presidente, atendendo aos nossos reclamos - fez vir para esta comarca um pequeno destacamento, medida esta de tão grande alcance e reconhecida por todos aquelles á quem ainda resta uma scentelha de moralidade e brio; mas medida aterradora e vexatoria para aquelles que vivem em comunhão com os estigmatizados da sociedade - os assassinos de profissão. (...). Eis a grita de Tito Correa de Mello (...)." (Correio Paulistano, 06/01/1874: 2).
Rio Novo teve autorizada sua primeira eleição para juízes de paz, realizada em 1º de março de 1874, numa conturbada disputa, digna em figurar no anedotário sertanejo.
O capitão Tito, sentindo a derrota do partido liberal, consequentemente dos candidatos apontados, ardilosamente mudou o local de votação, somente para o seu grupo, do templo da igreja para uma residência particular, sob a argumentação que o local oficialmente designado estaria tomado de gente belicosa a mando dos adversários; daí, em Avaré, a duplicata de eleições com os liberais e conservadores, cada qual elegendo seus juízes de paz.
"É sabido agora o motivo que determinou a 'duplicata' - na eleição que tinha de se proceder no dia 1º de Março - nesta paróchia.
Os amigos do governo - na véspera da eleição, (sabbado) apoderaram-se da egreja, sob protesto de impedir entrada no templo de armamento.
No dia seguinte, 1º de Março, ficou postada uma guarda na porta da egreja, por ordem da policia, para impedir que entrasse gente armada.
O juiz de paz Tito Corrêa de Mello, ao saber do facto, viu ahi o plano de desarmar os liberaes e armar os conservadores, e nesse caso resolveu fazer a eleiçã em uma casa particular, sob o protesto de estar tomada a egreja.
Dahi resultou: - a 'duplicata': os governistas fizeram sua eleição, tendo já a disposiçã seu juiz de paz, e os liberaes também.
Dous juizes de paz - em uma só parochia!
Cousas do tempo; belleza do systema.
Botucatu - nos communica um nosso amigo."
-(Correio Paulistano, 29/03/1874: 1).
Sem dúvidas o subdelegado 'Zeca Pinto' agiu de conformidade com a vontade do 'chefe' José Pereira de Souza Paixão, disto as reações explosivas do capitão Tito que teve rejeitados os seus argumentos.
Com o juizado de paz instalado, Rio Novo teve eleição de habilitação de seus eleitores, a 30 de maio de 1875, e pouco depois a freguesia de Rio Novo elevada à condição de vila, pela Lei Provincial nº 15, de 07/07/1875, e efetuada a posse dos juízes de paz - eleitos em 1º de março de 1874.
A condição de vila dava ao Rio Novo território municipal e emancipação política, através de pleito eleitoral para a Câmara Municipal, realizado aos 05 de dezembro de 1875.
4.4. Vila do Rio Novo: eleições camarárias, fraude, vereadores e rumos políticos
"Nessa eleição se encontra a diferença de 93 votos, pos que sendo recebidas 192 cédulas a 7 votos cada uma devia produzir 1344 votos, entretanto sommando-se todos os votos que obtiveram os votados encontram-se 1251, logo faltam 93 votos que a acta não dá sahida (...)." (Correio Paulistano, 19/03/1876: 1).
"No dia 4 de Janeiro aprovei a eleição do Rio-Novo, contra a qual não constava que houvesse reclamação ou protesto algum, e expedi ordens para que fosse installada a nova Villa, dando-se posse a sua Camara.Depois da expedição dessas ordens foi-me apresentada uma representação de alguns cidadãos, pedindo a nullidade da eleição, porque não fora feita nos termos da nova Lei eleitoral, e por essa razão deixara de concorrer o Partido Liberal.Não considerei procedente a arguida nulidade: o dia da eleição tinha sido designado no mez de Setembro, quando o Decreto n. 2765 de 1875 ainda não existia; a eleição foi feita em 5 de Dezembro, época em que o mesmo Decreto não podia ser considerado em vigor por não estarem expedidas as instrucções regulamentares para sua execução.A circumstancia de apparecer a reclamação depois de ser conhecido o resultado da eleição faz crer que os reclamantes tambem entendião que a nova Lei não vigorava, pois não é presumivel que intencionalmente elles deixassem o povo ser incommodado para praticar um acto nullo. Sujeitei essa representação á apreciação do Governo Imperial." (RG 1017 BN 1876: 45 – expediente à Assembleia Legislativa Provincial, pelo Presidente da Província o Exm. Sr. Dr. Sebastião José Pereira, em 2 de fevereiro de 1876 - http://brazil.crl.edu/bsd/bsd/1017/000045.html).Se os autores da representação pretendião intervir na eleição e consideravão que esta seria nulla sendo feita pelo regimen actualmente revogado, parece que devião ter requisitado o adiamento della.
Também, na mesma publicação, os Juízes de Paz, igualmente conservadores: Pedro Antonio de Araujo, José Carvalho de Oliveira, Felippe de Paula Eduardo e Manoel Joaquim Garcia.
Pelas regras eleitorais da época, se dois parentes eleitos, ainda que para cargos diferentes, um deles não podia assumir, caso dos Paula Eduardo. Alguns Vereadores assumiam, mas eram substituídos por suplentes, de modo intermitente ou períodos prolongados.
O Vereador Francisco Antonio da Cunha, em exercício do cargo no ano de 1877, anunciou mudança de nome, passando a chamar Francisco Braz da Cunha, a partir de 20 de fevereiro de 1877 (Diário de S. Paulo, 08/03/1877: 2 - Declaração assinada e datada de 20 de fevereiro do mesmo ano de 1877).
Oficio da Câmara Municipal de Rio Novo à Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo, aos 08 de fevereiro de 1877, solicitando verbas para obras públicas, trazem assinaturas de: "José Pereira da Silva - Presidente; Sabino Pereira de Mello; Francisco Antonio da Cunha; José Marcelllino da Silva; Pedro de Souza Franco da Rocha; Antonio Ferreira Dias (ALESP, 77.77.1 e outras fls), sendo os mesmos que assinam a proposta do Código de Posturas do Município, aos 18 de fevereiro de 1877 encaminhado à Assembleia Legislativa Provincial de São Paulo, despachado em 13 de abril de 1877 (ALESP, 77.4.1 e fls seguintes), conforme imagens:


5. Nomes notórios para a história de Avaré
Dos embates políticos entre a 'turma' de Bárbara Fé contra os seguidores do Coronel Eduardo, muito se contam loas que se tornaram lendas, em diferentes versões.
Numa delas, o Coronel Eduardo estava praticamente vencedor no pleito municipal de 1875, quando às vésperas, agonizava a matriarca, e Maneco Dionisio percorreu com seus companheiros, casa a casa da zona rural avareense, convidando a todos moradores para o funeral tido por certo, ou, não o sendo que rezassem por ela, na missa de corpo [vivo ou morto] presente, coincidentemente na noite antecedente ou no dia das eleições.
Bárbara apresentou-se moribunda num catre posto na sacristia da Igreja, como a se despedir de todos durante a missa, quando Maneco fez emocionado discurso sobre as qualidades caritativas da bondosa matriarca, com apelo final que o ultimo desejo dela era ver eleitos para a Câmara Municipal o seu filho Theobaldo e outros indicados, entre eles o próprio Dionísio. O povo, ainda sob forte comoção, pelos seus votantes cumpriu o pedido.
Após a missa iniciaram-se as eleições, urnas colocadas em próprios da Igreja e os votantes passando próximos ao leito de enferma que a todos endereça olhar de piedoso de pedidos e agradecimentos.
Finda as votações, Bárbara Fé do Nascimento vitoriosa, ainda vivia, recuperou a saúde e sobreviveu mais cinco anos, quando real óbito aos 22 de junho de 1881 (Óbitos, Avaré, colaboração de Santos Neto - Joaquim dos).
Também faz parte do anedotário histórico de Rio Novo, que o Coronel Eduardo, a culpar o padre pelo revés político de 1875, mandou jagunços agredi-lo e colocá-lo para fora do lugar. Aproveitaram o momento que o reverendo saíra para atender um enfermo, quando o cabecilha o acercou e perguntou como bater num padre sem cometer pecado.
O padre, ciente das intenções, disse que todo sacerdote era um representante de Deus, e somente podia ser agredido acima da cabeça. Esperto, o chefe dos jagunços mandou virar o padre de cabeça para baixo para bater-lhe à vontade por todo o corpo.
As gentes da matriarca chamavam de 'Farrapos' os sectários do Coronel, perdedor na 'Revolta dos Liberais de 1842', enquanto o Coronel e seus seguidores Aqueles apelidaram de 'Cascudos' (Casca Grossa) os monarquistas de Bárbara Fé, posto renitentes ao avanço republicano nas Américas, além de submissos ao 'Cabeça Coroada [D. Pedro II]' (Franzolin, op. cit, I)'.
5.2. O republicano coronel Eduardo Lopes
Com tão grande manifestação de apoio popular, a ousadia e inteligência de Maneco Dionísio, aliado à Igreja local, igualmente monarquista, extrapolaram-se os limites em fazer prevalecer, por tempos, leis monarquistas não revogadas pela República, por entender e defender que antes da nova Constituição aprovada, sancionada e outorgada, o governo republicano arbitrariamente já desmembrava do estado e destituía de qualquer função oficial, os atos da Igreja.
Exemplo disto, em Avaré 'não funcionou a proclamação republicana', antes de vigorar a nova Constituição, que determinava fosse respeitado o recém-criado sistema de cartórios, como responsável pela constituição oficial do registro civil, ou seja, para nele se proceder a assentos de nascimentos, casamentos e óbitos, antes realizados pela Igreja, a quem também competia o registros diversos da comunidade, sediar eleições, promover recenseamentos, definir áreas populacionais e demais atos convalidados pelas leis desde os tempos coloniais.
5.3. Maneco Dionísio: o contrapositor ao advento republicano
Outra notável discussão pós-república entre a Igreja e o Poder Público em Avaré, pode ser mais bem compreendida em relatos da própria Câmara Municipal:
6. Algumas conquistas político-administrativa avareenses, judiciárias e culturais*
As primeiras cadeiras do curso Primeiras Letras, para ambos os sexos, foram criadas pela Lei Provincial nº 12, de 09/03/1871, e o Distrito de Instrução Pública por Ato de Governo em janeiro de 1872.
A Agencia de Correios ocorreu aos 24 de abril de 1874, com malotes a cada doze dias até Botucatu, através de estafeta.
Por decisão eclesial, Avaré tornou-se Comarca Eclesiástica conforme Carta de Provisão de 1º de agosto de 1876.
A condição judiciária de Rio Novo. à condição de Termo - de Botucatu, ocorreu mediante Ato do Presidente da Província, de 22 de abril de 1876, e elevação à Comarca pela Lei Provincial nº 3, de 22 de fevereiro de 1883, abrangendo o Termo de Piraju - então São Sebastião do Tijuco Preto.
(...).
O Teatro Alencar foi inaugurado a 6 de janeiro de 1883.