domingo, 20 de dezembro de 2009

Produção Cafeeira


1. Ainda no século XIX
Foto representativa - Créditos LP Cascatinha e Inhana - música
Flor do Cafezal -https://www.youtube.com/watch?v=zgAOzmDyXZ0

No Registro Paroquial de Terras nº 51, terras em nome de Antonio Tavares Paes no Bairro Ribeirão Grande - Botucatu, lavrado aos 25 de dezembro de 1855, cita entre as suas divisas um cafezal (AESP, RPT/BTCT nº 51: 23-v/24-a), possivelmente dentro das terras outrora do capitão José Gomes Pinheiro Machado (Inventário, 1850, apud Pupo e Ciaccia, 2005: 79-86 e seguintes). 

Até 1870 as grandes lavouras cafeeiras de São Paulo se concentravam mais no Vale Paraíba, e não ultrapassavam Botucatu, porém se sabe das primeiras experiências em Santa Cruz do Rio Pardo, quando já estabelecido o plano para recebimento de linha férrea.

Segundo Leoni (1979: 28), no ano de 1874 são notadas plantações pioneiras de café no Vale Paranapanema, e as primeiras produções, a partir de 1877, nada significativa, porém somava-se a outros produtos transportados em carros de boi, carretões e lombo das tropas, que pelos espigões demandavam os tradicionais locais de embarques, como o 'Porto de Lançóes', o entreposto de São Manoel e mesmo à estação ferroviária de Rio Claro, em funcionamento desde 1875, conforme relatório pela Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo:

—"(...) a direção ainda hoje [1890] preferida pelo comércio da zona do rio Pardo aos confins do Sertão povoado. Esta direção, que aliás nos não parece a mais conveniente, visto obrigar a grande circuito pelo centro do Estado antes de atingir a sua legítima saída no porto de Santos, terá de ser abandonada com o prolongamento da ferrovia Sorocabana, uma vez vencido o espigão divisor dos dois vales. Então todo o vale do Paranapanema não será mais do que um monopólio da mencionada ferrovia." (CGGESP, 1890: Boletim nº 4).

A Comissão revelava: "O comércio, pela via fluvial do Paranapanema, é insignificante; mas vai crescendo aquele efetuado pela estrada do sertão às costas de animais e dos ronceiros carros puxados por bois." Entretanto, tudo poderia ser melhor e antes, senão o agravamento da 'Guerra com o Paraguai' a impor atenções bélicas em detrimento ao avanço da estrada de ferro, rumo ao Planalto Ocidental Paulista.

O progresso teimara não chegar e as lavouras pouco progrediram e quase nada avançaram, pela distância e dificuldades de transportes: "O comércio no vale do Paranapanema ressente-se muito da falta de boas vias de comunicação; por isso escasseiam um tanto os produtos de exportação da lavoura e tomam a dianteira os da criação, que por si só fazem frente ao comércio de importação." (CGGESP, 1890: Boletim nº 4).

Depois surgiram as consequências pós-guerra, o endividamento do Brasil com a Inglaterra - financiamento da guerra, o elevado custo governo-igreja e o senado vitalício, a emissão de moedas, a inflação, os problemas militares e escravistas, como exemplos da ampla crise que envolveu todos os segmentos sociais e setores econômicos da vida nacional. 

A despeito das dificuldades Santa Cruz do Rio Pardo mostrara-se região bem-sucedida em outras culturas, na pecuária e criação de porcos, nos anos de 1877, até em causa da própria guerra, quando a produção deixara de ser 'economia de subsistência', e então lançados no mercado para satisfazer necessidades da população crescente e das caravanas que se embrenhavam nos sertões. Mas a produção cafeeira exigia muito mais que isto para se tornar eficiente, e assim, todo o sertão dependia da ferrovia para plantios em escalas de exportação. 

No ano de 1887 progrediram as grandes lavouras de café, com a inaugural de José Custódio de Souza, da Fazenda Santa Clara - denominada Clarínia, com mais de dez mil cafeeiros, cuja estrutura montada na mão de obra escrava disponível, com excelente produção e lucros em 1890/1891.

Outros fazendeiros seguiram os passos de José Custódio com algumas plantações anteriores a abolição e depois centrada nos forros que pagavam liberdade negociada - antes da Lei Áurea, e na mão-de-obra indígena disponível.

A despeito do sucesso do café, em 1890 tem-se o indicativo que a exportação regional era deficitária em relação à importação, segundo Theodoro Sampaio:

—"Enquanto do vale saem anualmente pouco mais de 3.000 toneladas de café, algodão e fumo, no valor de cerca de 1.900:000$, os produtos da indústria pecuária, só quanto ao gado suíno e bovino, apresentam um total de perto de 4.000:000$000. O comércio de importação, representado por tecidos de vários gêneros, chapéus, calçados, louça, ferragens, açúcar, farinha de trigo, bacalhau, sal, vinho, cerveja, licores, drogas medicinais etc., é bastante avultado (...). O pequeno comércio entre Botucatu e a barra do Tibagí, a não ser o do gado bovino que vem do Paraná e dos sertões novamente povoados para além de Campos Novos, pouca importância tem: um pouco de café que vai para o Jataí e para Mato Grosso, algumas fazendas, bebidas, ferramentas, etc., eis os principais artigos de importação. O café é entretanto o mais rendoso neste pequeno comércio: comprado a 4$000 por arroba em São Manuel ou Botucatu (sem ser ensacado) vem a valer com o transporte para a barra do Tibagi de 6$000 a 7$000, levado para Mato Grosso, por via fluvial, é vendido no porto de desembarque a 18$000 ou 20$000, geralmente a troco de gado, que, às mais das vezes, é preciso ir vender ao Paraguai." (CGGSP, 1890: Boletim nº 4).

Para o equilíbrio das contas e saldo positivo o mesmo relatório CGGSP recomendava a necessidade de incrementar o comércio de importação e exportação, para o barateamento dos produtos:

—"A linha férrea Sorocabana, que ainda não penetrou no vale do Paranapanema, seu principal objetivo, é agora o natural escoadouro desta região, não obstante estarem ainda muito distantes do rio as suas estações mais favoráveis, o que ainda torna muito pesados os fretes para artigos de importação. (...)."

O Brasil buscou então o socorro internacional, com garantias para o capital estrangeiro nele ampliar presença, através de investimentos junto ao governo e grandes empreendedores nacionais, facilitando-lhes o crédito e financiando o desenvolvimento industrial vinculado à economia cafeeira.

A cultura cafeeira somente seria compensadora em grande escala.

As necessidades foram supridas pela Inglaterra, nação capitalista e de recursos industriais. Relatórios britânicos apontaram o Brasil potencialmente viável para grandes investimentos, com garantias de bons lucros, e o Vale Paranapanema era visto como lugar de futuro às pretensões europeias: terras para desbravamento e bons locais para estabelecimento de colônias estrangeiras em favor da Alemanha, Espanha e, principalmente, da Itália.

 

2. O sertão pronto para o progresso

A conquista do sertão centro sudoeste e oeste paulista, com a eliminação do índio, permitira a aplicação do capital inglês na região, financiando abertura de estradas de rodagem e férrea, construções de pontes e portos fluviais de maneira a incentivar produções excedentes, lucrativas, com garantias de escoamento rápido. 

A extensão dos trilhos abrira novos povoados, enriquecendo os antigos, e, assim, a possibilitar as colocações de tecnologias inglesas como as máquinas a vapor para as indústrias e fábricas, sinônimos de progressos e fenômeno agregativo de grandes lucros aliados às especulações imobiliárias.

Nisto se pode visualizar a nova ordem econômica mundial a ditar regras para o Brasil, ou seja, a implementação capitalista de produção em atividades organizadas nas grandes lavouras de café e outras culturas.

Na Alemanha, desde 1873 surgira o "primeiro consórcio internacional para controlar o comércio do café.", seguido após pelos norte-americanos [1880] para assim a "... formação de um truste de importação e de venda do café." (Tidei Lima, 1978: 107).

A valorização do produto no mercado externo tornara mais vigorosa a expansão cafeeira no sertão paulista - Pardo e Paranapanema, onde muitas terras ainda intocadas e adequadas para o plantio e melhor produtividade, sobretudo diante dos métodos mais racionais de se trabalhar o solo. 

O fim da escravidão negra, em 1888, sem dúvidas fez cessar a base do modelo agrícola até então utilizado e fundeado na produção escravista o que garantia o barateamento do custo com mão-de-obra.

Em muitos lugares, mesmo aguardada, a abolição provocou crise na produção agrícola e promoveu a disputa de localidades para a importação de mão de obra. No Sertão Paranapanema parece não ter ocorrido assim, dada a transição entre a mão-de-obra escrava negra com a mão-de-obra livre, de 1888 até os primeiros anos do século XX, valendo-se dos contratos de libertação antecipada dos negros e a mão-de-obra indígena em substituição aos libertos.

Outrossim, já observado anteriormente, enquanto em alguns lugares buscavam o 'branqueamento da raça' na região adiante do 'Pardo santa-cruzense' não aconteceu o fenômeno, optando os fazendeiros por contratar o negro já seu conhecido e muito mais camarada que os politizados 'anarquistas' italianos e suas querelas trabalhistas.

Desta maneira o sertão não sentiu a abolição, tanto que as primeiras famílias italianas, antes do final do século XIX, fixaram-se como negociantes e construtores e não trabalhadores rurais. Os imigrantes ruralistas dariam entrada apenas a partir de 1901/1902, na intitulada imigração espontânea.

Já no início do século XX o Brasil experimentava a primeira crise cafeeira. Em 1902 os pioneiros no plantio de café na região de Santa Cruz do Rio Pardo, José Custódio de Souza, o coronel João Baptista de Souza e outros, foram à falência, com a queda internacional do preço do café e sem a garantia do governo brasileiro, no caso de Custódio de Souza em razão do débito com a empresa de investimentos 'Lidgerwod Manufacturing C.º Limited'. 

O Brasil não vinha bem, financeiramente, quando Campos Salles assumiu o governo, 1898/1902, com promessa de revitalização posta em prática numa equivocada política deflacionária, ao promover a revalorização do mil-réis frente à libra, com uma quase equiparação artificial, o que fez despencar a economia brasileira, refletida na imediata queda de preço do café no mercado externo, fazendo quebrar os cafeicultores iniciantes, como o caso dos irmãos Custódios e outros em Santa Cruz do Rio Pardo.

 

3. A primeira crise cafeeira

O café despencara de quatro para meia libra por saca, fazendo com que os cafeicultores recebessem menos pela venda de seus produtos. Não suportaram os cafeicultores tenente José Custódio e outros condôminos das Fazendas Santa Clara e Cocaes, foi assim descrito os bens e valores para hasta pública:—"(...) Oitocentos alqueires de terras, presumiveis, em mattas, sitos na Fazenda 'Santa Clara', desta Comarca, sendo ditas terras proprias para café a sessenta mil réis o alqueire, quarenta e oito contos de réis, setecentos alqueires de terras, presumiveis, na fazenda 'Cocaes', anexa a primeira, em mattas proprias para café a trinta mil reis ou vinte um conto de réis; quinhentos alqueires de terras, de serrado e samabaia, a quinze mil reis o alqueire, ou se contos e quinhentos mil réis, uma casa de morada, coberta de telhas, assoalhada, construcção de madeira, por tres contos de réis; uma machina de beneficiar café, serraria e accessorios, tudo funcionando e em bom estado, por doze contos de réis; uma casa, onde se acha a mesma machina, em muito bom estado, por seis contos de réis; um paiol, contruido de madeira, por quatrocentos mil réis; um moinho, por quinhentos mil réis; um momjollo e casa de telhas, por duzentos mil réis; uma casa de telhas, situada no campo, por cento e cincoenta mil réis; uma outra, construida de taboas e coberta de sapè, por cem mil réis; uma dita contruida de paus a pique e coberta de telhas, por quatrocentos mil réis; uma dita, em identicas circumstancias, por duzentos mil réis; uma dita, coberta de telhas, por quinhentos mil réis; tres casinhas, cobertas de sapè, com monjollo e pomar, por tresentos mil réis; uma outra, cercada de taboas e coberta de telhas, onde actualmente mora Joaquim Custodio, por um conto e duzentos mil réis; um paiol, por duzentos mil réis; um pasto gramado, cercado, quasi todo, de arame, por um conto e quinhentos mil réis, quatro potreiros, divididos, plantados de grama, por cinco conto de réis; uma casa em que mora João Custodio, por duzentos mil réis; vinte quatro mil pés de café, por doze contos de réis; um grande açude, com rego d'agoa, sendo esta sufficiente para mover qualquer machinismo, por quatro contos de réis; um outro rego d'agoa, independente do açude, por seiscentos mil réis, um gramado, cercado, em parte de arame, por um conto e quinhentos mil réis; oitocentas braças de vallo, por oitocentos mil réis; cem braças de cerca de arame, por cem mil réis; nove bois de carro, por setecentos e vinte mil réis; um carro e um carretão, por sessenta mil réis, prefazendo o total de cento e vinte oito contos duzentos e trinta mil réis, que com o abatimento de mais dez por cento, fica reduzido a somma e quantia de cento e tres contos oitocentos e sessenta e seis mil e tresentos réis.

(...)."

- (Correio do Sertão, 06 12/1902: 3, Edital de Leilão).

Do arremate, o Correio do Sertão informa, em sua edição de 13 de dezembro de 1902, página 2 (ano I nº 40):

—"No dia 6, conforme edital, publicado nesta folha, foi à terceira praça, nesta cidade, a fazenda Santa Clara, avaliada por 128:230$000, sendo arrematada por 30:500$000.

Esta fazenda se compõe de 2 mil alqueires de terras superiores, 24 mil pès de café formado, machina para beneficiar café, serraria, moínho, casas de moradia, de machinas e de empregados e muitas outras bemfeitorias. O seu antigo proprietário, antes de assentar as machinas, regeitou por ella 300 contos de réis:

Infeliz lavoura, em que estado te deixou o malfadado governo dos srs. Campos Salles, Murtinho e Cª!."

A própria companhia 'Lidgerwod Manufacturing C.º Limited' tornou-se proprietária dos bens leiloados, com forte investimento na mesma cultura do café.

Da falência das fazendas Santa Clara e Cocaes salvou-se o condômino de uma segunda parte da Santa Clara, o dr. Bento Barata Ribeiro, Procurador da República em São Paulo (DOSP, de 29/10/1892: 3), também dito Senador - Estado do Rio de Janeiro, em 1902, (Correio do Sertão, 12/04/1902: 2), quiçá homônimo, que a havia repassado ao financista Claudio de Arruda Camargo.

O Barata Ribeiro teria informações privilegiadas para a compra de parte da 'Fazenda Santa Clara', como especulador. Da venda da propriedade a Arruda Camargo surgiu, pela primeira vez, o nome do coronel Antonio Evangelista da Silva, o Tonico Lista, no noticiário jornalístico:

—"Secção Livre: Ao Publico

Quando vim receber a fazenda 'Santa Clara' que comprei do sr. dr. Bento Barata Ribeiro, pertencente a este municipio, encontrei como administrador o sr. Jeronymo José dos Santos, hoje residente em Avaré; este homem não quiz me fazer entrega da referida fazenda, allegando ter a Fazenda umas contas a pagar ao snr. Antonio Evangelista da Silva, negociante residente nesta villa, que havia passado duas ordens contra o dr. Barata e que não tinham sido cumpridas, ordens estas no valor da dita divida que a fazenda devia."

-(Correio do Sertão, 06/12/1902: 3).

O declaratório prossegue, porém sem interesses para o presente tópico, apenas que enquanto as providências tomadas ou pretendidas por Arruda Camargo, Tonico Lista fez retirar daquela fazenda o equivalente em café ao valor da dívida a receber.

Três anos após a entrada da 'Lidgerwod Manufacturing C.º Limited' diretamente na lavoura do café, o produto tornou-se novamente acreditável e fortemente lucrativo e a transformação santa-cruzense foi enorme, com o surgimento dos novos ricos ao lados dos coronéis agora os 'barões do café'.

A cultura cafeeira que estava entre uma das causas do suicídio do coronel João Baptista Botelho, em 1902, agora transformava o seu herdeiro político Antonio Evangelista da Silva, casado com sua viúva, no maior cafeicultor regional, através da Fazenda Mandaguary [Mandaguahy], que atingiria mais de novecentos mil pés de café. 

No período da crise cafeeira de 1901/1902, a policultura fez o sucesso santa-cruzense com a produção voltada para a exportação, desde os gêneros de primeira necessidade, às vendas do fumo, dos derivados da cana e também o algodão que, apesar das oscilações e pragas, no início do século, ainda era o ouro branco. 

Essas culturas mantiveram preços excelentes e motivadores para os cultivadores, de acordo com as considerações inseridas naquele Boletim de nº 4 (CGGESP, 1890). 

Entende-se que o município de Santa Cruz do Rio Pardo, consoante visão e estudos de Santos Silva (1954: 10-11 - Revista Panorama ano 1 nº 1), fez-se o mais desenvolvido comercialmente no Vale Paranapanema: 

"(...) [e] transformou a economia das áreas mais antigas, que de pastoris passaram a agrícolas (cafeeiras), bem como tornou possível a exploração das ubérrimas terras situadas ao sul do rio Pardo, terras roxas, terras de mata, e que até então haviam sido deixadas à margem pela economia e povoamentos anteriores." 

O sucesso santa-cruzense do século XIX trouxe a acumulação de capital no complexo agropecuário que se refletiria em boa parte do século XX, com fortes impactos na sua urbanização destacadamente após a chegada da ferrovia que, além das mercadorias e pessoas que chegavam, havia principalmente o escoamento em grande escala das mercadorias da região, como o café, algodão, alfafa e outros produtos agrícolas e a madeira, além do transporte de cargas vivas, bovinos, suínos, muares e aves, sem dizer dos passageiros locais que com facilidade e conforto podiam se deslocar para outros centros.

 

4. Ações capitalistas

Os acontecimentos contam a história que o café brasileiro teve sobrevalorização repentina no exterior, pois seus concorrentes diretos enfrentaram graves crises ao mesmo tempo: Java [Indonésia] teve seus cafezais atacados por pragas e foi obrigada a erradicação total de suas plantações, o Haiti enfrentou grave crise social com a revolução dos escravos e a seguir a independência da ilha, deixando atrás de si lavouras destruídas ou abandonadas, enquanto no Ceilão [atual Sri Lanka] os solos esgotaram-se, sem nutrientes nem húmus para vigorar a plantação.

Também "Outros fatores decisivos foram a estabilização do comércio internacional, depois das guerras napoleônicas (Tratado de Versalhes, 1815) e a expansão da demanda européia e americana por uma bebida barata." (As Origens do Café, CD: A/A).

O sucesso da exportação e a valorização do produto tornaram mais vigorosa a expansão cafeeira no oeste centro sudoeste paulista, onde as terras eram intocadas e adequadas para o plantio e melhor produtividade, sobretudo diante dos métodos mais racionais de se trabalhar o solo.

As vias férreas deixaram de ser projetos e avançaram, criando povoados, trazendo o comércio e indústrias que aumentaram e prosperaram na produção de bens.

Novo fenômeno para o Brasil: "as culturas do açúcar e do algodão estavam em crise, batidas no mercado internacional pela produção das Antilhas e dos EUA; por isso, os fazendeiros precisavam encontrar outro produto de fácil colocação no mercado internacional. Nas décadas de 1870/1880, o café passou a representar até 56% do valor das exportações" (As Origens do Café). 

Os ingleses investiram nas estradas de rodagem, nos portos fluviais e nas ferrovias, encurtando caminhos para melhor se adequar à produção em grande escala, visando melhor atendimento ao mercado consumidor. Esse binômio transporte/agricultura responsabilizou-se pelo aumento e progresso de indústrias, evolução dos povoados em cidades.

O Brasil conseguiu, economicamente, superar a crise causada pela abolição da escravatura [1888] com a substituição do trabalho escravo pelo trabalhador livre. A abolição representou para os escravizados o ato redentor de juridicidade governamental, mas não sua emancipação civil, política e econômica, mantendo-os segregados sociais, dependentes de subempregos, incapazes de algum movimento que os tornasse iguais ou competidores com a mão de obra dos imigrantes europeus e asiáticos.

Exclusos, no Sertão Paranapanema, os escravizados que firmaram contrato de emancipação antecipada com os seus senhores, muitos sujeitando-se a prestação de serviços não remunerados por um, dois ou mais anos; e, também os índios que continuaram prestadores de serviços obrigacionais gratuitos.

Politicamente a abolição foi um desastre para o governo, pois ao ceder às pressões internacionais e aos ideais abolicionistas, "Vossa Alteza redimiu uma raça, mas perdeu o seu trono", célebre frase atribuída ao Barão de Cotegipe, em 13 de maio de 1888, ao cumprimentar a Princesa Isabel pela aprovação da Lei Áurea, conforme citações e registros históricos, para expressar que os grandes prejudicados pela Lei Áurea foram os senhores da elite escravagista, sustentáculos da monarquia, cuja reação imediata foi o abandono ao regime, dezoito meses depois substituído pela república.

Atualmente não se entende assim, pois a abolição foi programada desde a edição da Lei do Ventre Livre em 1871. 

O capital, na fase de transição da escravatura pelo trabalho livre, não deixou abalar a economia do Brasil, ao contrário, investiu-se no crescimento da indústria brasileira atrelada ao café e à imigração oficial de mão de obra assalariada, de produção ou de parceria.

—"No início do século [XX], empresas estrangeiras instaladas no país, como a anglo-canadense Light e Power e a norte-americana Bond and Share, ampliaram os serviços urbanos de água, esgoto luz e transportes. A indústria da carne é dominada pelos frigoríficos Wilson, Armour, Swift e Anglo; os vagões ferroviários são feitos pela fábrica norte-americana Pullman (...) na siderurgia, os franceses e belgas tomam a dianteira com a Companhia Belgo-Mineira." (Apud Economia na Primeira República).

Outras culturas como o algodão, o açúcar e mais a criação de gado, estavam entre as primeiras atividades de produção organizada do país, mas foi a cultura do café a grande mola propulsora do progresso, objeto de pesados investimentos estrangeiros e modificações ao meio de vida sertanejo. 

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